É a pergunta que até mesmo gente traquejada nos mercados se fez todos esses dias. Há vários níveis de resposta. As mais profundas talvez só o tempo e muita análise farão chegar a nós, com base na velha observação que os sábios legaram: vivendo e aprendendo.
Há nisso muito da milenar pretensão de construir a Torre de Babel, que vai da terra ao céu. Bem antes disso, chega o dia em que ninguém mais se entende, tudo vira confusão e a volta ao chão dos mortais exige enorme carga de sofrimento.
Uma antiga lei do mercado financeiro, hoje incorporada pelas Regras da Basiléia, determina que um banco não pode emprestar mais do que 10 a 12 vezes seu capital. E foi essa a lei descaradamente atropelada.
Para tirar proveito de uma extraordinária abundância de dinheiro (essa é outra história), os bancos americanos (depois vieram outros) imaginaram um esquema em que continuariam a emprestar pilhas de recursos sem que isso fosse para os seus balanços, o que os dispensaria das restrições de crédito.
A idéia era juntarem dinheiro no mercado e repassá-lo imediatamente aos tomadores de empréstimo sem se comprometerem na operação, nem na ponta credora nem na devedora. Os bancos atuariam como intermediários, em troca de comissão, como os corretores de imóveis.
Somam hoje mais de US$ 13 trilhões os empréstimos imobiliários nos Estados Unidos. Foram empacotados sob várias siglas financeiras e repassados aos aplicadores. Tudo se daria como se o investidor financiasse o mutuário, usando o banco apenas como correia de transmissão.
Foi tanto imóvel colocado à venda que chegou o dia em que os preços começaram a cair, como mostra o gráfico. Em seguida o mutuário se deu conta de que estava atolado num financiamento mais alto do que o valor de sua casa. Hoje mais de 1 milhão de americanos não têm condições de honrar suas prestações. Essa gente passou a devolver o imóvel. Os bancos não tiveram outra saída senão executar as hipotecas e, assim, mais imóveis foram colocados à venda - e mais os preços foram derrubados.
Logo depois, os aplicadores entenderam que a volta do seu dinheiro corria risco. E acorreram em massa aos saques. Os bancos, que antes se diziam fora do negócio, tiveram de aceitar os resgates exigidos, pois tinham passado garantia de recompra. Eles haviam imaginado que essa garantia funcionaria mais ou menos como os créditos passados pelos cheques especiais: estão disponíveis para um grande número de correntistas, mas, na prática, apenas uma fração recorre a eles. Mas veio o aperto e logo os bancos se viram atolados com os tais créditos que ficaram podres. O resto é conseqüência.
E entre as conseqüências está o fenômeno babelesco. Ninguém sabe quanto valem os tais títulos tóxicos, os ativos que eventualmente tiverem de ser liquidados. A maior parte da crise de confiança vem daí.
O pacotão de salvação dos bancos terá de arbitrar um preço e a esperança é que seja o começo de novo entendimento. A nova Torre de Babel passa por aí.