NOVA YORK. O apoio do ex-secretário de Estado Colin Powell à candidatura de Barack Obama não é uma peça política importante apenas por se tratar de um republicano de alta estirpe apoiando o candidato democrata à Presidência da República. Ex-membro do Conselho de Segurança Nacional no governo Reagan, e chefe das Forças Armadas Conjuntas no governo Bush pai, a declaração de Powell sem dúvida tem o peso de seu prestígio pessoal. Mas, a análise que fez ao justificar sua decisão vai além, na direção de um governo acima das divisões partidárias, das diferenças de raça, religião e gênero, que é o núcleo da campanha de Obama desde quando, nas primárias, disputava a indicação do seu partido.
Colin Powell soube dar a seu apoio uma dimensão política que inviabiliza a tentativa de se limitar a adesão ao fato de ele também ser negro. O general poderia ter sido, aliás, o primeiro afro descendente a disputar — e talvez vencer — uma eleição presidencial nos Estados Unidos, antecipando em mais de dez anos a meta histórica prestes a ser alcançada por Obama.
Talvez em 1995 os Estados Unidos não estivessem preparados para eleger um negro e o apelo da mulher de Powell para que não concorresse, por receio de um atentado, pode ter lhe poupado a vida e dado espaço para que viesse a ocupar um dos cargos mais altos já exercidos por um negro nos Estados Unidos, a secretaria de Estado no primeiro governo de George W. Bush.
Mas, ter que desistir de um projeto dessa envergadura, quando estavam colocadas condições objetivas que permitiam antever a possibilidade de sucesso, por ser negro, certamente deve ter deixado em Colin Powell um sentimento de frustração que ele pretende superar com sua adesão a Obama.
A maneira elegante, mas firme, com que rejeitou a escolha da governadora Sarah Palin como companheira de chapa de McCain, fazendo a análise de que ela é um indicativo de que o Partido Republicano havia caminhado para a direita política mais do que ele gostaria, foi a crítica severa de um republicano desiludido com os caminhos que o partido, e especialmente McCain, escolheram para tentar ganhar a Presidência.
Como não é possível acusar-se o General Colin Powell de ter-se bandeado para a esquerda, ou de que seja antipatriota, suas críticas aos ataques que o candidato democrata Barack Obama tem sofrido por parte da campanha republicana têm a marca de um soldado que desde a Guerra do Iraque vem discordando do rumo que o partido vem tomando, especialmente pela predominância dos neoconservadores que dominaram as decisões da Casa Branca sob o comando do vicepresidente Dick Cheney.
Na sexta-feira anterior ao anúncio de Powell de apoio a Obama, aliás, estreou no circuito nacional de cinema americano “W”, o novo filme de Oliver Stone sobre a trajetória política do presidente George W. Bush, que mostra bem as divergências sobre a invasão do Iraque e o papel do então secretário de Estado, em permanente disputa com Cheney e o secretário de Defesa Donald Rumsfeld. O que deve melhorar a imagem pública de Colin Powell.
Atribui-se a amigos de Powell a informação de que sua defesa da invasão do Iraque no Conselho de Segurança da ONU, baseado em supostas evidências levantadas pela CIA de que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa — que acabaram se provando falsas —, fez com que se desiludisse com o governo Bush, do qual se afastou paulatinamente.
O fato de que o candidato republicano John McCain conta em sua assessoria internacional com a colaboração de vários especialistas ligados aos neoconservadores do governo Bush ajuda a entender a escolha de Colin Powell, que tem uma visão sobre a guerra do Iraque mais próxima da defendida por Barack Obama.
Mas, o ex-secretário de Estado não se limitou a apoiar Obama em questões militares, e entrou na grande questão dos impostos, que hoje centraliza a campanha presidencial.
McCain descobriu no bombeiro hidráulico José (Joe, the plumber) uma maneira de levar aos trabalhadores americanos sua advertência de que o candidato democrata tem um projeto “socialista” de distribuição de renda através dos impostos. Colin Powell rejeitou também essa tentativa de ligar Barack Obama ao socialismo.
A diferença de seis pontos, embora esteja acima da margem de erro das pesquisas, está dentro do “fator Bradley”, que leva em conta o racismo intrínseco do americano médio. Por essa teoria, o prefeito Tom Bradley, de Los Angeles, apontado como o vencedor da disputa pelo governo da Califórnia em 1982, acabou perdendo porque as pesquisas não revelam a tendência do eleitor médio de não votar em negros.
Um artigo de um antigo assessor de Bradley, publicado ontem no “New York Times”, no entanto, renega essa versão. Blair Levin, atualmente dirigindo uma financeira, diz que Bradley era um político que não trabalhava com as diferenças, mas sim com o que unia as pessoas, e não gostaria de ser lembrado por um suposto efeito de exclusão.
Segundo Levin, ele não perdeu devido ao racismo, mas a uma lei impopular sobre controle de armas e porque o partido republicano fez um trabalho muito bom de arregimentar eleitores que as pesquisas não detectaram.
É um trabalho desse tipo que a campanha de Barack Obama vem fazendo desde o início, estimulando o comparecimento às urnas e filiando novos eleitores. Em busca do “efeito Bradley” ao contrário.
Entrevista:O Estado inteligente
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