OPINIÃO
Enquanto os efeitos da crise financeira mundial nos setores reais da economia ficam cada vez mais visíveis, amplia-se a discussão — que deverá ser longa — sobre o que fazer para evitar uma repetição do problema. O ponto central da questão parte do diagnóstico do desarranjo no sistema de crédito, causado pela demolição da pirâmide de papéis hipotecários e colaterais construída longe de qualquer supervisão e regras, a partir de bancos de investimentos americanos.
Espalhados principalmente pela Europa e Ásia, esses títulos, lastreados em dívidas imobiliárias de alto risco nos Estados Unidos, contaminaram grande parte dos mercados financeiros. Mesmo onde não houve intoxicação, como no Brasil, a crise cria problemas, por causa da paralisia do sistema mundial de crédito.
Reunidos sábado em Camp David, os presidentes dos Estados Unidos e da França, George Bush e Nicolas Sarkozy — este acumulando com a UE —, e da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, trataram do assunto. De concreto, houve o anúncio de Bush de que convidará o G-8 — ampliado com nações emergentes, entre elas o Brasil — para discutir ações globais. Não se mencionou data.
Historicamente mais afeitos à intervenção do Estado na vida da sociedade, os europeus partiram na frente na proposta de padrões de regulação que sejam comuns a todos os países. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, em artigo no “Washington Post” de sexta-feira, publicado no dia seguinte no GLOBO, defendeu instituições de supervisão financeira ampla.
Tanto Gordon quanto Sarkozy, para quem está na hora da “refundação” do sistema financeiro, referemse à necessidade de um novo acordo de Bretton Woods — firmado pelos aliados em 1944, nesta cidade americana do estado de New Hampshire, e que lançou as bases para o crescimento mundial no pós-guerra. Algo com aquela envergadura parece mesmo necessário, por causa das implicações e profundidade da crise.
É consensual que alguns parâmetros regulatórios são imprescindíveis — como os que tratam de alavancagens, por exemplo.
O risco é, para compensar os tempos de falta de parâmetros e supervisão, haver uma radicalização em sentido oposto. Quer dizer, que as normas sejam tão restritivas que o setor financeiro fique engessado, sem condições de prestar serviços com a qualidade e segurança que se esperam dele.
Assim como o risco, também o espaço para a criatividade empresarial precisa ser preservado.
Entrevista:O Estado inteligente
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