Nada do que está acontecendo é normal. Os tempos não são normais, são de crise aguda, mas a reação das autoridades econômicas e monetárias do mundo está piorando a crise em si, e deixando uma herança maldita para o futuro. Os Tesouros dos EUA e inglês vão virar banqueiros, comprando ações e até controle acionário de bancos privados. Se não é o fim do capitalismo, eles estão se esforçando!
A Islândia levou muito a sério o próprio nome — Iceland, terra do gelo — e congelou os depósitos de clientes ingleses; isto, depois de ter estatizado os bancos. Países periféricos podem tomar medidas estapafúrdias. O esquisito é a Islândia virar assunto nos mercados internacionais.
Ela não tem saído da primeira página nos últimos tempos. Ou pela reação desesperada do seu governo, dizendo que estava à beira da “falência nacional”, ou pelo empréstimo bilionário tomado junto à Rússia, ou pela estatização dos bancos.
Ontem foi pelo ataque aos ingleses.
As autoridades mundiais parecem baratas tontas, correndo de um lado para o outro, e isso realimenta o pânico. O propalado pacote de US$ 700 bilhões de resgate do secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, é um capítulo à parte em matéria de proposta confusa feita pelas autoridades. Mas o mais importante agora é confirmar — de novo! — a avaliação do economista Nouriel Roubini: “O pacote é um não-evento.” Se tivesse tido o efeito que Paulson disse que teria, o secretário do Tesouro americano não estava ontem propondo fazer nos EUA o mesmo pacote inglês em que o Tesouro vira sócio dos bancos.
A versão americana é mais exagerada: ele quer comprar o controle acionário dos bancos. Se exibir neste plano a mesma perícia, destreza e respeito aos contribuintes que demonstrou no pacote de US$ 700 bilhões, os Estados Unidos terão acelerado a sua marcha rumo ao passado. Remoto.
É normal bancos centrais injetarem liquidez nos mercados em épocas de crise de liquidez, é normal a liberação de compulsório, é normal a queda das taxas de juros. Em época de risco de crise sistêmica começam as anomalias.
E é como anomalia que se entendem os pacotes de saneamento de sistema financeiro, como foi o Proer aqui, o caso das Savings&Loans nos anos 1980 nos Estados Unidos, ou o saneamento dos bancos japoneses.
Mas, nesta crise, o Fed foi além das anomalias esperáveis.
Ben Bernanke saiu de braços dados com o secretário do Tesouro num corpoacorpo no Parlamento para aprovar um plano do Executivo de compra de ativos podres em carteira dos bancos.
Não sobrou nada da antiga independência do banco central americano. Se ainda fosse o plano para acabar com todos os planos, tudo bem. Mas era um plano defeituoso, e foram inúmeros os economistas que apontaram os erros. Bernanke gosta de se definir como um professor de Economia. Como professor, está reprovado, por ter aprovado plano tão ruim.
Agora, o plano B não é mais a faxina de ativos tóxicos; é tomar conta da banca diretamente.
O rombo criado por salvações de bancos já supera US$ 2 trilhões e não se tem idéia de onde vai parar.
Paulson-Bernanke, esses ases do volante, deixaram um banco quebrar. Apenas um.
Salvaram todos os outros.
Mas este um que deixaram quebrar, o Lehman Brothers, está custando muito mais caro que todos os outros, porque detonou a pior crise de confiança já vista em 80 anos.
E é mesmo para desconfiar com o mundo entregue a esses gênios. O presidente Bush, esse lame duck, faz agora pronunciamentos tão diários quanto inúteis. Hoje falará novamente.
A atuação coordenada dos bancos centrais esta semana foi um momento de lucidez neste festival de maluquices.
E vinha surtindo efeito. Até que Paulson destrancou de novo o fantasma do armário, avisando que outros bancos poderiam quebrar. Ontem, o bom humor não atravessou um pregão. A Dow Jones, que chegou a estar positiva, fechou em menos 7,33%: S&P caiu 7,6%. Aqui, a Bovespa mostrou que o mercado não sabe para onde vai. Chegou a estar em alta de 4,8% e fechou em queda de 3,92%.
Agora já está ligado o círculo vicioso: a crise do mercado financeiro está produzindo efeitos na economia real, o que realimenta o pessimismo no mercado financeiro.
A queda de ontem nas bolsas americanas foi em parte pelas más, e previsíveis, notícias do mercado de automóveis americano. Que o PIB americano vai encolher, está dado. Uma economia que era movida a crédito barato e concedido de forma irresponsável, em que as dívidas refinanciadas geravam mais capacidade de consumo, obviamente encolhe quando o castelo de cartas desmonta. O erro foi de novo das autoridades, que não viram que a economia tinha tão insustentáveis fundamentos.
No Brasil, não se viu, ainda, nenhuma medida tresloucada.
Felizmente. O que houve de fora de propósito foi a convicção insensata de que a crise não nos atingiria porque estávamos sólidos, robustos, blindados; que aqui chegaria uma marolinha e outras tolices ditas pelos que nos governam. A demora de agir no câmbio produziu uma maxidesvalorização despropositada, de 50%, que está fazendo as empresas sangrarem. O problema aqui é este.
No mundo, parte da crise é provocada pela imperícia dos que governam os países ricos. É a maluquice dos líderes o pior neste momento de risco.
Entrevista:O Estado inteligente
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