Kundera é acusado de colaborar com a polícia comunista
Autor de A Insustentável Leveza do Ser, o checo Milan Kundera era reputado como uma voz da dissidência ao tempo em que o comunismo dominava o Leste Europeu. Na semana passada, porém, uma organização checa chamada Instituto para o Estudo de Regimes Totalitários divulgou uma descoberta que pode manchar a biografia do escritor. Um relatório da polícia secreta comunista de Praga nomeia Kundera como informante, em 1950. O futuro escritor, então com 21 anos incompletos, teria revelado o paradeiro de Miroslav Dvoracek, que havia fugido da Checoslováquia em 1948 e estava de volta a Praga em uma missão secreta de espionagem. Capturado, Dvoracek passaria catorze anos nas prisões comunistas, fazendo trabalho forçado em minas de urânio. O recluso Kundera saiu da toca para negar a veracidade do relatório: "A memória não me enganou. Não colaborei com a polícia secreta". A história é bastante nebulosa – uma testemunha da época veio a público para inocentar Kundera e apontar outra pessoa como o informante. O caso é apenas mais um em uma sucessão de revelações sobre a colaboração com o comunismo ou o nazismo que têm rondado escritores como Christa Wolf e Günter Grass – uma mostra de que a Europa ainda não se conciliou com seu traumático século XX.