Do outro lado do Atlântico, dirigentes da União Européia tentarão expandir, numa reunião marcada para hoje e amanhã, o plano de resgate anunciado no domingo por 16 países. O objetivo é envolver os 27 membros da comunidade no esforço de recuperação do sistema.
Além disso, a pauta deverá incluir propostas de um modelo de regulação para o bloco. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, o primeiro a defender e a pôr em prática a estatização parcial de bancos, como forma de conter a onda de falências, é um dos defensores de regras mais estritas para o mercado europeu e de um sistema global de supervisão financeira.
Programas de socorro imediato ao setor financeiro têm sido apresentados também fora dos Estados Unidos e da Europa. Os governos da Austrália, da Nova Zelândia e dos Emirados Árabes anunciaram a mobilização de recursos para o fortalecimento dos bancos. Ações foram iniciadas no Brasil, no Chile e no México. Na América Latina, a resposta mais pronta foi a do Banco Central do Brasil: já possibilitou, em medidas sucessivas, a liberação de R$ 100 bilhões em depósitos compulsórios, para descongelar o crédito, e criou estímulos para a negociação de carteiras entre bancos. Esse estímulo foi ampliado na segunda-feira para beneficiar um número maior de instituições. Aquelas com patrimônio líquido de até R$ 7 bilhões, e não mais de R$ 2,5 bilhões, serão autorizadas a vender carteiras, segundo os termos do programa.
As autoridades, portanto, passaram das intenções à prática. No mundo rico, mobilizaram trilhões de dólares e de euros para fortalecer as instituições financeiras e, se tudo correr bem, conseguirão restabelecer em prazo razoável a confiança no sistema financeiro. Vencido o pânico, o crédito será restabelecido mais facilmente e a mudança de humor nos mercados beneficiará também os países emergentes.
Alcançar esses objetivos é sem dúvida a prioridade neste momento. Enquanto a insegurança persistir, nenhuma outra iniciativa produzirá resultados e a crise será prolongada e extremamente custosa. A estabilização do sistema financeiro, no entanto, não será suficiente para fortalecer a economia real, isto é, as atividades de produção, consumo, investimento e criação de empregos.
A economia real já foi atingida pela instabilidade financeira, reconheceu o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet. O risco de um forte desaquecimento da economia ainda é uma preocupação, admitiu Gordon Brown. As projeções do FMI para 2009 indicam um crescimento quase nulo para os Estados Unidos e a União Européia, mesmo na hipótese de um bem-sucedido programa de estabilização financeira. Os investidores sabem disso e são lembrados desse fato, diariamente, pelos balanços das empresas.
O governo brasileiro baixou o tom de suas bravatas, nas últimas semanas, mas continua prometendo uma expansão econômica, em 2009, superior aos 3,5% previstos pelo FMI. Pode estar certo, mas o objetivo da política, nos próximos 12 meses, não deveria ser apenas a manutenção de um crescimento próximo de 4,5%, especialmente se esse resultado ficar na dependência do mercado interno. Um bom mercado nacional é um ativo importante, sem dúvida, mas não pode haver crescimento duradouro sem contas externas sólidas. O governo não deveria menosprezar esse limite ao traçar a política econômica para 2009.