Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 11, 2008

GUSTAVO FRANCO A crise e o Brasil

A CRISE INTERNACIONAL assume feições dramáticas, mas ela não é nossa. É preciso zelar para que continue assim.
O efeito mais visível, a queda nas Bolsas, tem grande impacto no noticiário, no bolso e na psicologia das pessoas. Não há muito o que fazer, pois a Bolsa funciona como um termômetro de coisas mais complexas que se passam no mundo financeiro. O investidor deve lembrar, mais que nunca, que Bolsa é investimento de longo prazo e que perda de verdade ocorre apenas quando o indivíduo vende. É fácil observar que os preços das ações estão inacreditavelmente baixos diante dos "fundamentos" das empresas e da economia; o ânimo para as compras ainda não está presente, mas a vida normal será retomada.
No terreno do crédito, há um fenômeno objetivo, que é o corte de linhas interbancárias externas, e outro subjetivo, que é o aumento de aversão ao risco. O corte de linhas afeta o capital de giro dos exportadores. Este é um terreno delicado, e o governo se moveu usando as reservas internacionais, que fornecem ampla e confortável base para a normalização desses canais.
A aversão ao risco gera seletividade nas aplicações, o que deteriora as condições de captação dos bancos, o que tende a se refletir nos clientes desses bancos. Para que aí não se tenha uma influência recessiva, tampouco qualquer desconfiança sobre a solidez do sistema, as autoridades também têm agido com rapidez. Resta observar que a crise poderá ameaçar-nos através do câmbio. A rigor, nossa posição no balanço de pagamentos e de reservas internacionais não deveria traduzir-se em enfraquecimento do real num momento em que os problemas não estão aqui, mas lá fora. Como evidência disso, basta notar que o "risco Brasil" reagiu apenas marginalmente à crise.
Independentemente desses fatores fundamentais, o corte das linhas externas criou razões técnicas para o câmbio subir, pois os exportadores foram privados dos seus adiantamentos e o câmbio deitou a subir. Num segundo momento, verificou-se que muitas empresas haviam tomado posições vendidas em derivativos cambiais, com o intuito de reduzir seu custo de captação, e que a zeragem dessas posições estava levando o câmbio longe demais. A elevação do câmbio da faixa de R$ 1,70 para R$ 2,20 (tendo passado por R$ 2,50) representa o que antigamente se chamava de uma "maxi", e de pouco mais de 30%. As "maxis" não são nada recomendáveis nesse momento, primeiro porque a posição internacional do Brasil não carece delas, e segundo por que sacode a árvore sem necessidade.

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