Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 10, 2008

Fim de um projeto O GLOBO EDITORIAL,

Longe de estar sendo atingida por uma marola, a economia brasileira enfrenta algo como uma ressaca de grandes proporções, causada pelo entupimento dos vasos comunicantes do sistema global de crédito.

Bem municiado por reservas de US$ 200 bilhões, o Banco Central tem agido com rapidez para evitar uma desvalorização indesejada, em proporção e velocidade, do real — pelo visto, causada, em grande parte, por perdas internas em arriscadas operações com derivativos em torno do dólar — , injetar liquidez no mercado e para não deixar sem financiamento o comércio exterior.

Esta é uma frente em que o governo demonstra agilidade. Há uma outra, no entanto, que, por atingir um dos dogmas do governo Lula — o gasto público —, alimenta preocupações.

Nesta, não se observa a mesma rapidez nas decisões, ao contrário.

Assusta que a tão óbvia conclusão de que o impacto da crise no país força o governo a rever a política de gastos pareça transitar com tanta dificuldade em Brasília.

Não se discute que o mundo reduzirá o passo. Debate-se apenas a proporção do desaquecimento.

Reunido ontem pelo jornal “Wall Street Journal”, um grupo de 52 economistas concluiu que a economia americana mergulha numa recessão.

E o mundo segue os EUA. O Brasil tem especificidades que o protegem de um tranco mais forte — mercado interno, produtos essenciais de exportação etc. —, mas não se livrará do desaquecimento.

Junto com o qual virá a redução correspondente no ritmo de crescimento da arrecadação. Logo, conter gastos é questão de sobrevivência.

O discurso oficial é que, pelo menos até agosto, os gastos públicos correram abaixo do crescimento da arrecadação: 11,4% contra 17,9%. Mas, mesmo assim, as despesas foram infladas em 5% a mais que a inflação, o que é muito.

Em condições normais, se as despesas evoluíssem menos rapidamente que o PIB, os gastos em relação ao tamanho da economia ficariam menores. Mas sequer isso está, ou estava, acontecendo. E como o PIB se expandirá menos, é vital que os gastos comecem já a ser podados.

O risco é o gasto público crescer em relação ao PIB enquanto a crise mundial se agrava, prejudicando a percepção do risco Brasil.

A gastança em custeio correu solta no funcionalismo e em decorrência do impacto dos aumentos reais do salário mínimo na Previdência — para citar dois focos de desestabilização. Há bilhões contratados para despesas futuras nesses itens. Se é para valer o discurso presidencial de que os investimentos do PAC têm de ser preservados, está passando da hora de começar a decidir os cortes orçamentários.

O projeto do Estado pantagruélico foi arquivado pela crise mundial.

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