O caos no serviço de emergência do Miguel Couto, que levou o hospital a interromper anteontem o atendimento no setor, não pode ser visto como um caso isolado dentro da área de saúde do Rio. O município herdou unidades e serviços da União da época em que era o Distrito Federal, aos quais se juntam as estruturas do estado e da prefeitura, mas tal arcabouço não se reflete em qualidade na ponta mais importante, que é onde se localiza o atendimento aos pacientes.
O diagnóstico do desserviço é conhecido, assim como é previsível o ciclo de crises no setor. Entre outras razões, o caos na saúde municipal decorre de falhas na gerência e da leniência na gestão, como demonstram números que saem de uma série de auditorias realizadas desde 2001 pelo Tribunal de Contas do Município (TCM), sobre cujas conclusões seria recomendável que se debruçasse o candidato a ser ungido prefeito no próximo fim de semana.
Em tese, a saúde no município tem estrutura suficiente para prestar um serviço de mais qualidade à população. Com mais de sete mil médicos distribuídos por 155 unidades, a média de profissionais por habitantes (1,15 por mil) é superior ao mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (um por mil). No entanto, as auditorias do TCM indicam que os serviços precisam ser reorganizados, em vista da má distribuição de pessoal pelas unidades de atendimento.
No Centro, a proporção de médicos por mil habitantes chega a 4,99 — o que está bem acima do mínimo da OMS. Mas, na Zona Oeste, onde a prefeitura não tem hospitais de emergência, a relação cai a níveis inaceitáveis. Na Zona Sul, onde fica o Miguel Couto, e na Barra os níveis também estão acima dos padrões da OMS, mas a situação volta a piorar nas áreas de menor poder aquisitivo da cidade.
Há remédio para a crise da saúde, seja ela sistêmica ou pontual, mas o receituário se tornará ineficaz sem o pressuposto da reorganização do setor. Apostar em ações positivas, como a modificação do regime de contratação de pessoal, de modo a permitir a cobrança de metas de desempenho, também faz parte do tratamento. É nessa direção que já caminham o estado e a União — esta ainda a depender da superação de resistências das corporações sindicais aliadas ao PT e que atuam no setor. Este é um modelo de gestão pública de países civilizados, mas o preconceito ideológico é arraigado.Também estará à espera do vitorioso de domingo a tarefa de ajudar a integrar os serviços de saúde municipais, estaduais e federais. Uma tese que todos defendem, mas que a política partidária impede a aplicação.
Entrevista:O Estado inteligente
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