Coluna - Nas Entrelinhas |
Correio Braziliense |
1/10/2008 |
Os americanos não estão debruçados sobre uma crise mundial. Disputam, na verdade, votos no próprio quintal e não parecem dispostos a cooperar em escala planetária Num passado recente, naquela grande nação ao norte, o Banco Central deixou a taxa de juros menor do que a inflação. Queria estimular a economia para evitar uma recessão. Com a margem de lucro limitada pela política monetária, os bancos tiveram que ampliar a escala. Começaram a emprestar dinheiro a quem lhe passasse na porta. Os tomadores nem sempre tinham o perfil aconselhado pela boa técnica bancária para receberem o crédito. Mas fazer o quê? Pegaram o capital e foram às compras. Onde? No mercado imobiliário. Quando alguém toma empréstimo em banco, os pagamentos futuros, “recebíveis” no jargão da área, tornam-se ativos da instituição financeira. Como tal, podem ser vendidos. Ou dados como garantia de outras operações — “alavancagem”, em financês. Pois os bancos americanos inundaram o mundo com suas carteiras de subprime (apelido dos empréstimos de má-qualidade no ramo imobiliário), seja vendendo-as a terceiros, seja alavancando posições com elas. Mas e o Banco Central? Permitiu isso? Lá, ao contrário de cá, o sistema é auto-regulado. Nem o BC nem o governo se metem na vida de seus bancos nesse nível de gestão. Eles têm liberdade para fazer o que bem quiserem com o dinheiro que captam e com o crédito que concedem. Aí, o perigo de recessão passou, mas o de inflação chegou. As taxas de juros voltaram a subir. E aqueles tomadores de empréstimos fizeram o que todo mundo faz quando o dinheiro falta: deram calote. Todos os bancos pelo mundo que adquiriram papéis de alguma forma relacionados com os subprime se viram, de uma hora para outra, com um baita buraco no caixa. O sistema inteiro entrou em colapso e chegamos ao ponto atual. O governo Bush pediu autorização do Congresso para usar dinheiro dos impostos e comprar dos bancos americanos todas as carteiras de subprimes, sejam créditos diretos ou outros títulos neles lastreados. O pacote custaria US$ 700 bilhões! É onde entra a política miúda. Maioria no Congresso, o Partido Democrata queria incluir no texto da lei mandada por Bush uma cláusula beneficiando mutuários que fazem parte de sua base eleitoral. Era uma espécie de chantagem. Algo como, “ok, republicanos, nós lhes salvamos se vocês perdoarem as dívidas dos nossos eleitores”. Minoritário, o Partido Republicano representa o que se chama de “América profunda”. São aqueles caipiras conservadores, com certa ojeriza tanto ao modo de vida dos garotões ricaços do mercado financeiro, como às intervenções do governo sobre negócios privados. O deputado texano John Culberson é um deles. Eleito pelos votantes do distrito de Houston, ele exerce o quarto mandato. Chegou à Casa dos Representantes pregando a limitação da ação governamental, a auto-regulação dos mercados e a liberdade individual. Foi quem liderou a reação ao pacote. “Não podemos endividar nossos filhos e netos em mais US$ 700 bilhões, além dos US$ 9,2 trilhões da atual dívida pública”, discursou. Em outras palavras, “nós, desbravadores do Oeste, não queremos pagar pelos erros daqueles sujeitinhos de Wall Street”. Como se vê, os americanos não estão debruçados sobre uma crise mundial. Disputam, na verdade, votos em seu quintal. De onde concluo que só o vôo ameaçador de alienígenas sobre o céu da Grande Cidade os fará cooperar em escala planetária. Caso contrário, iremos todos juntos para o buraco, inclusive este velho e otimista país ao sul do Equador. |
Entrevista:O Estado inteligente
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