Autoridades dão primeiros passos para controlar o mercado financeiro paralelo, uma das causas da crise
MUITO SE fala dos efeitos afinal desastrosos da desregulamentação nas finanças sobre a economia. O paradoxo é que regras prudenciais para a atividade de bancos e empresas de capital aberto estavam em evolução em muitos países.
A série de escândalos contábeis revelados no início desta década propiciou uma importante reforma nas regras de transparência para as companhias de capital aberto nos EUA. Da mesma forma, um protocolo mais cauteloso, conhecido como Basiléia 2, vinha sendo implantado no setor bancário em nível mundial.
Por razões que a política, o peso dos lobbies e o crescimento vigoroso da economia nos últimos anos explicam, estimulou-se o inchaço de uma cunha de opacidade e risco elevados, como a minar esse sistema regulado. Toda uma rede de relações financeiras, cujo conjunto é inescrutável, proliferou nas sombras, embora tenha mantido contato constante e complexo com as instituições sob supervisão do governo.
Títulos lastreados em hipotecas e derivativos de crédito -para citar dois instrumentos muito acionados nesse universo paralelo das finanças mundiais- ajudaram a multiplicar a capacidade dos bancos regulados de emprestar recursos durante a bonança. Catapultaram, assim, o endividamento das famílias, o consumo e o investimento nos países desenvolvidos no período.
Na reversão abrupta do ciclo, contudo, experimenta-se agora o poder destruidor desses mecanismos, que não param de revelar surpresas desagradáveis. Na Europa, nos EUA e no Brasil, as autoridades correm para formular políticas capazes de controlar essas práticas. As dificuldades são muitas, entre elas decifrar como funcionam os mecanismos e saber qual a sua real dimensão.
Quanto ao segundo aspecto, discute-se a criação de um pregão público para o comércio de derivativos de crédito nos EUA. Quase todos esses contratos, que em seu conceito original não diferem de um seguro comum contra calotes, são de gaveta -apesar de movimentarem no planeta, todo ano, um montante equivalente ao PIB americano.
No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários, autoridade do mercado de capitais, acaba de exigir que as empresas abertas explicitem na sua prestação de contas qual o grau de utilização de derivativos. Exportadores e importadores, por exemplo, costumam proteger-se contra oscilações na taxa de câmbio lançando mão desses dispositivos. Agricultores também, para o caso de mudança na cotação do produto que vão vender no futuro.
A depender do tipo de contrato feito pela empresa -o que não era obrigatoriamente publicado em sua contabilidade-, uma oscilação brusca de cotações pode redundar em prejuízo inesperado e relevante para os acionistas. Espera-se que seja apenas o início de uma reforma ampla nas regras de governança corporativa em vigor no Brasil, em direção à transparência total.
Entrevista:O Estado inteligente
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