Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, outubro 20, 2008

Crises construídas podem ser evitadas PAULO GUEDES

Geralmente subestimamos a importância da sorte em tudo o que fazemos. Os eventos raros não são compreendidos: nem a possibilidade de sua ocorrência nem suas drásticas conseqüências”, alerta o instigante Nassim Taleb, em “Iludido pelo acaso: o papel oculto da sorte nos mercados e na vida” (2001). “O que surpreende não é a magnitude de nossos erros de previsão, mas sim nossa falta de consciência a respeito.

Sofremos de arrogância epistêmica: literalmente, nossa insolência quanto aos limites de nosso conhecimento”, adverte Taleb, em “A lógica do cisne negro: o impacto do altamente improvável” (2007), a respeito de eventos extraordinários como o atual colapso financeiro.

O autor chama de “cisnes negros” os eventos raros, inesperados e de efeitos dramáticos que definem o sucesso ou o fracasso nos mercados e na vida.

Essa imprevisibilidade tornou-se o refúgio do ex-presidente do Federal Reserve, banco central americano, Alan Greenspan, quando se refere à crise como observador distante: “Um evento como esse ocorre a cada cem anos, era totalmente imprevisível.” O atual presidente do Fed, Ben Bernanke, confidenciou a mesma surpresa a respeito da previsibilidade desta crise. Como se o Fed nada tivesse a ver com a excessiva expansão de liquidez por trás da bolha imobiliária, da explosão dos preços das commodities, do colapso do dólar nos mercados de moedas, da marcha sincronizada dos mercados acionários globais e, finalmente, do excesso de alavancagem bancária que implodiu agora em um buraco negro do crédito.

Cientistas de boa estirpe são simpáticos ao ceticismo destilado na obra de Taleb. Sabem que as hipóteses com que trabalham são apenas aproximações de uma sempre elusiva realidade. Mas não se acanham de formular previsões a partir de condições iniciais, ou de explicar o ocorrido a partir das condições finais. São despretensiosos exatamente por respeitarem os limites de seu conhecimento. Os mesmos limites em que se detectam as fraudes de tingir de negro velhos e conhecidos cisnes brancos.

Não é preciso ser especializado em flutuações cíclicas para recusar a qualificação desta crise como um cisne negro. Evento raro, sim. Mas imprevisível? Apenas em seus desdobramentos. “Pude ver claramente que uma superbolha estava se desenvolvendo.

E que estava condenada a terminar muito mal. Fui a público com essa previsão em um livro publicado em 2006. E não estava só. O mundo financeiro estava dividido entre os mais velhos que já viram crises, como eu, e a geração mais nova, que desconsiderava essa possibilidade”, afirma o conhecido investidor George Soros, em “O novo paradigma para os mercados financeiros” (2008).

Nouriel Roubini, Marc Faber, Bonner e Wiggin, Robert Shiller, Stephen Roach e muitos outros anteciparam a evolução desta crise, que, pelo esforço das autoridades em reverter o credit crunch, permanece em seu mais longo episódio: “Desaquecimento global IV: A ameaça de estagflação.”

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