blog Noblat
Eis que, após tentativas inúteis de minimizar a crise, o governo Lula finalmente a admitiu. Há uma crise financeira mundial, de proporções hecatômbicas, e o Brasil não está fora dela. Ufa!
Resta então saber quais as repercussões políticas internas, de curto e médio prazos (já que, no longo, todos estaremos mortos), pergunta que, agora, o governo tenta evitar.
Tal gesto é tão desastroso quanto o anterior. Desde sempre, sabe-se que o econômico se reflete sobre o político – e vice-versa. Não por acaso, no passado, o nome da disciplina ministrada nas faculdades era exatamente economia política.
Eram (e são) termos indissociáveis. O fator psicossocial em economia é inseparável de seus demais componentes. O que determina o sucesso ou fracasso dos programas econômicos é bem mais que a engenhosidade das fórmulas. É a credibilidade.
O que a estabelece são fatores que podem variar, mas que não prescindem da ética como pilar. O que fez o Plano Cruzado empolgar o país foi a credibilidade (depois desfeita) dos que o enunciaram.
O governo que emergia de duas décadas de ditadura militar já rompera com alguns postulados políticos, com pleno apoio da sociedade. Restava romper com o modelo econômico. E o público entendeu (equivocadamente ou não) que o Plano Cruzado rompia corajosamente com o modelo anterior. E o apoiou.
Seu fracasso deu-se pelo inverso. Ao editar outro plano, contrariando o que o primeiro havia sustentado e prometido, a economia do governo Sarney desmoronou. Ele, que havia obtido índices de aprovação superiores ao do governo Lula, saiu vaiado do poder, carimbado pelo tumor da hiperinflação.
O Plano Real repetiu o processo. Não obstante o combate implacável que lhe moveram lideranças populares como Lula e Brizola, triunfou graças à credibilidade que obteve. Lula, quando assumiu, manteve o modelo econômico que tanto combatera.
O que seria uma aparente contradição converteu-se em bom senso, o que lhe rendeu críticas em sua base e elogios (e credibilidade) por parte da opinião pública. Mudar de idéia, reconhecendo um equívoco, não diminui ninguém. Só não muda de idéia, diz o ditado, que não a tem. Lula fortaleceu-se com sua opção.
Colheu excelentes resultados na economia (e, por extensão, na política), registrando o mais alto índice de popularidade pessoal já aferido por um chefe de Estado no Brasil (o governo Sarney superou a popularidade do seu, mas não o seu pessoal).
Os bons ventos da economia mundial, associados aos fundamentos sólidos da economia nacional, geraram ambiente de euforia e consumo, que responde por sua performance.
Ocorre que a mega-crise mundial, com suas repercussões internas já admitidas, põe tudo isso em xeque. Os gastos públicos terão que ser reduzidos, o que inevitavelmente afetará os programas assistencialistas (bolsa-família e outros).
A redução do crédito, interno e externo, afetará não apenas o consumo, mas as obras de infra-estrutura (o PAC), o que reduzirá consideravelmente o emprego. Exportação e importação são outros setores duramente atingidos.
São constatações (e não apenas previsões) que estão na boca de todos os analistas econômicos, inclusive os do governo. Não se trata de opinião ou torcida pelo fracasso. Ninguém, em sã consciência, torce contra si mesmo (que é o que equivale a torcer contra o êxito econômico do país).
O Brasil crescerá menos – o quanto, não se sabe ainda. Mas sabe-se que a redução será expressiva. E, assim como inflou a imagem presidencial e de seu governo, o fator econômico terá repercussões na avaliação geral de seu desempenho, que já não será o mesmo. Como isso repercutirá na sucessão presidencial de 2010? Essa a pergunta que não quer calar – e que está sendo evitada.
Se o governo tivesse acabado na semana passada, entraria para a história como dos mais bem sucedidos de todos os tempos, e Lula como o mais popular dos presidentes. Tinha, no entanto (como no poema de Drummond), uma pedra no meio do caminho. A crise de Wall Street. A bala perdida que atingiu em cheio o governo Lula.