Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 10, 2008

Queda livre Celso Ming

Os preços das commodities estão há quarenta dias em queda livre nas bolsas internacionais de mercadorias. É estouro de bolha? Quem será atingido? E como fica a economia brasileira, esse grande exportador de commodities?

Economistas reconhecidamente competentes, como Kenneth Rogoff e Paul Krugman, sustentam prognósticos diametralmente opostos. Isso significa que o cidadão comum, que não é o mais entendido nessas coisas, tem de navegar e fazer suas próprias apostas.

Não dá para garantir que o especulador não tenha a ver com a alta das commodities. Pode estar assumindo agora a ponta vendedora depois de passar meses ajudando a turbinar os preços. Mas pega carona em movimentos dos fundamentos do mercado.

Há também a recuperação do dólar sobre as moedas fortes no câmbio global, que exerce impacto baixista sobre as commodities pelo fato de que cumpre a função de medida de valor. Isso quer dizer que um pedaço da queda dos preços se deve ao fato de que, em questão de duas semanas, menos dólares são precisos para comprar a mesma tonelada de grãos ou o mesmo barril de petróleo.

No entanto, não se pode perder de vista as principais razões pelas quais as commodities tiveram quase seis anos de alta contínua. Elas estão relacionadas com o aumento do consumo dos emergentes. Não é nada, em dez anos, 400 milhões de asiáticos deixaram o campo da exclusão social e se tornaram consumidores.

Além disso, no caso dos preços dos alimentos, há o desvio de 20% da produção de milho americano para a obtenção de etanol.

O momento é de entendimento de que a economia dos países ricos e do resto do mundo está em desaceleração. Isso implica redução do consumo de matérias-primas, energia e alimentos em proporções ainda pouco claras. Os mercados precisam antecipar-se aos fatos e, assim, vão operando no meio da bruma por tentativa e erro - e sabe-se lá até quando prosseguirão assim.

A redução de marcha dos ricos atinge seus fornecedores. E, nessa gaveta, convém colocar não apenas exportadores de matérias-primas (como Brasil e Argentina), mas também exportadores de industrializados, como China e Índia.

Mas não dá para exagerar. O senso comum diz que a expansão da economia chinesa está diretamente relacionada com seu vigor exportador. Puro engano. Como esta coluna apontou sexta-feira, em 2007 as encomendas externas representaram apenas 2,5 pontos porcentuais do crescimento do PIB chinês, de 11,9%. Os outros 9,4 pontos vieram do mercado interno.

Isso sugere que, após a temporada de ajustes, os fundamentos que vinham regendo o mercado global de commodities voltarão a prevalecer. Assim, mais cedo do que tarde, os preços voltarão a subir.

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