Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 10, 2008

DANUZA LEÃO A Olimpíada



Adoro ver um atleta com cara de subdesenvolvido ganhar uma corrida derrotando um americano de 2 m, fortão

VAI SER UMA semana inteira em que só se vai falar, comer e respirar esporte, e ai dos que não se interessam pelo assunto -porque essas pessoas existem e também são filhas de Deus; o que vão fazer?
A China certamente deu um show na abertura como nenhum país seria capaz, com suas alegorias, sua arte, seu bom gosto, sua criatividade.
Ótimo. Mas de esporte mesmo, quem só gosta de assistir ao vôlei e ao basquete, como eu, vai estar mal de vida. Ah, e adoro também ver um atleta bem magrinho, com cara de subdesenvolvido, ganhar uma corrida, derrotando um americano de dois metros de altura, bem fortão.
Quanto às outras modalidades, basta saber dos resultados. E me impressiona como existe gente que se interessa por todos eles, e que não desgruda o olho da televisão, mesmo não conhecendo as regras nem tendo o hábito de vê-los no Brasil. Mas é bonito ver a subida ao pódio dos vencedores, com as bandeiras dos seus países atrás, e o hino nacional tocando, mesmo que não seja o nosso. Somos todos, irremediavelmente, uns sentimentais.
É curioso ver como os atletas dedicam horas de todos os seus dias a um esporte para ganhar uma medalha -e se for de ouro, então, é a glória total.
E Lula, que não ia perder essa por nada, já está lá, e vai se sentir o rei da cocada preta a qualquer medalha ganha pelo Brasil, como se cada vitória fosse obra de seu governo, ou melhor: dele, pessoalmente. Será que o país vai tão bem que não precisa do seu presidente no país, para tratar de outros problemas? A China é longe, mas naquele avião novo e superconfortável, a viagem de Lula deve ser bem agradável.
O que devem fazer, então, os que não são apaixonados por esporte, a partir de hoje? Meditar seria uma idéia, mas são poucos os privilegiados que conseguem essa façanha; o remédio é se trancar em casa e alugar um monte de filmes dos anos 40, do tempo em que os atores e atrizes estavam sempre com um copo de bebida numa mão e um cigarro na outra, e lembrar de como era bom, quando se podia beber e fumar.
Aliás, uma curiosidade: houve um tempo em que todo mundo fumava e não se ouvia falar nem de câncer no pulmão nem de problemas respiratórios. E ainda hoje, volta e meia alguém diz "meu avô morreu com 95 anos fumando". Será que os pulmões eram mais fortes, ou os cigarros feitos de outra substância? Beber também se tornou um problema, e é quase um pecado hoje em dia pedir uma bebida que não seja vinho -mas sabendo da origem, do ano, aquelas coisas todas. O uísque está completamente fora de moda, e não fica nem bem tomar um em público.
Que tal então, só por rebeldia, dar uma festinha de fim de Olimpíada servindo só uísque e pondo uma placa na parede como aquele motorista de táxi do filme de Almodóvar dizendo "pede-se fumar"? Já estou exausta de saber das contusões de cada atleta -e a Olimpíada mal começou.
Mas como isso seria politicamente incorretíssimo, vamos, então, festejar o fim da festa com a TV desligada, bebendo refrigerante, lembrando que a vida já foi bem mais divertida, nos bons tempos em que esporte era só futebol.
E toda a minha solidariedade aos pobres dos jornalistas que estão cobrindo a Olimpíada, correndo de um lado para o outro, tentando arranjar assuntos interessantes e notícias de bastidores para encher o noticiário.
Esses merecem muitas medalhas.

danuza.leao@uol.com.br

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