O show do milhão
Lailson Santos |
Daniel Kunzler e Roberto Carvalho, donos de um novo negócio de aparelhos de som: do lado dos brasileiros que vêem no país um território de oportunidades fabulosas |
Não importa o tema, há sempre uma maneira pessimista ou otimista de enxergá-lo. Os pessimistas costumam dizer que o Brasil é um país aonde o futuro nunca chega. Para comprovarem seu modo de ver, eles lançam mão de estatísticas sobre criminalidade, doenças endêmicas e corrupção, mazelas que inegavelmente não dão mostras de arrefecer. Os otimistas, por sua vez, preferem passar por cima das evidentes dificuldades e ver apenas um território de oportunidades fabulosas. Nesta edição de VEJA, os dois lados poderão nutrir-se de argumentos. Nas páginas 74 e 75, o leitor achará uma reportagem que mostra como em cidades do interior o crescimento econômico está se fazendo acompanhar de uma piora no campo da segurança pública. De acordo com um levantamento realizado pelo sociólogo Julio Waiselfisz, nos últimos anos, o número de assassinatos a cada 100.000 habitantes se manteve inalterado nas capitais, mas subiu no interior. O aumento da riqueza não trouxe medidas efetivas de prevenção à criminalidade. Ponto para os pessimistas.
Os otimistas encontrarão na reportagem especial que começa na página 54 motivos palpáveis para entusiasmar-se com o futuro – e o presente – do Brasil. Ela revela como a adoção do moderno capitalismo global lançou raízes irremovíveis por aqui, amparada não só em apostas corretas do atual e do último presidente da República, mas também em uma mudança do eixo econômico mundial favorável a nós. No ano passado, o valor arrecadado por empresas com a abertura de ações na bolsa chegou a 55,5 bilhões de reais. O que diferencia o atual momento de uma simples bolha é o surgimento de uma cadeia financeira que alimenta os negócios já existentes, estimula a criação de empresas, de empregos – e, claro, de novos milionários. A Boston Consulting Group (BCG) estima que, só no ano passado, 60 000 novos brasileiros atingiram essa classificação econômica. Pela dificuldade óbvia de avaliar imóveis, fazendas, carros e barcos, a BCG mediu apenas os chamados "ativos financeiros". Segundo os critérios da consultoria nessa pesquisa, milionário é a pessoa que tem o equivalente a 1 milhão de dólares ou mais em aplicações financeiras. Por tal critério, o Brasil ganhou 164 novos milionários por dia em 2007. Se compararmos esse dado com o de homicídios por 100 000 habitantes, a conclusão é que, hoje, a possibilidade de um brasileiro se tornar milionário é 22% maior do que a de ser assassinado. Vai ser difícil tirar o sorriso dos lábios dos otimistas.