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Bernardo e Mantega: imposto já. Cortes mais tarde |
Uma reportagem desta edição de VEJA mostra como o governo se moveu para tentar cobrir o buraco de 40 bilhões de reais aberto pelo fim da cobrança do "imposto do cheque", a CPMF, cuja recriação foi negada pelo Senado no mês passado. Nenhuma surpresa nas medidas anunciadas pelos ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Paulo Bernardo, do Planejamento. Infelizmente. Como havia a promessa do governo de que as soluções viriam do consenso entre o Executivo e o Legislativo e de que elas não acarretariam aumento de impostos, vigorou por alguns dias a esperança do surgimento de algo inédito na administração federal, um corte efetivo dos gastos públicos. Nada disso. O governo preferiu continuar não cabendo dentro do PIB.
As medidas incluem o imediato aumento das alíquotas do imposto sobre operações financeiras (IOF) e da contribuição social sobre o lucro líquido do setor financeiro. Anunciou-se também um corte de 20 bilhões de reais. Como sempre, os cortes ficam para depois. Eles ainda serão definidos no próximo mês e vão incidir sobre a parcela de investimentos a ser prevista no Orçamento da União para 2008, peça que o Congresso ainda nem começou a estudar para valer. Leia-se: o aumento de imposto é para já. A economia fica para as calendas gregas.
Existiria um caminho melhor? Certamente. Tanto o governo quanto a oposição poderiam começar, por exemplo, por apressar a tramitação de um bom número de projetos cuja aprovação aceleraria o ritmo do crescimento econômico ao mesmo tempo em que diminuiria as necessidades de financiamento do estado. Conforme revelou o jornal O Globo em sua edição de 2 de janeiro último, esses projetos estão encalhados no Congresso. Sua aprovação e a das reformas óbvias que pelo menos há uma década dormitam no Planalto Central do país serviriam a dois propósitos. Em primeiro lugar, dariam à economia brasileira uma dinâmica nova, tornando-a ainda menos dependente dos humores econômicos mundiais. Em segundo, produziriam um governo menos pesado de ser carregado pelos cidadãos, com aumento da prosperidade para todos. É pedir muito?