Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Osama, Obama -Reinaldo Azevedo

Osama, Obama

Ah, tenham dó. Fiquem calmos os mais exaltadinhos. Fiz uma brincadeirinha quase inocente ao escrever o trocadilho “Obama-Osama”. Sei bem que é uma piada que também circula nos EUA. E daí? É só um pouco de humor. Não quis atribuir vocação terrorista a Barack Hussein Obama ou sugerir que o fato de ter estudado numa madraçal na Indonésia faça dele um cavalo-de-tróia do terrorismo muçulmano na política americana.

Não. Ele não é um cavalo-de-tróia por causa do seu passado ou de sua origem. Ele o é num sentido mais amplo, mais geral, que nada tem a ver com a sua trajetória. Querem debater essa questão a sério? Então vamos lá. Li alguns de seus discursos e tenho acompanhado a sua trajetória. Os que estão me xingando por causa da brincadeira podem me mandar uma síntese das idéias de Barack Obama.
- O que ele pensa sobre a guerra do Iraque?
- O que ele pensa sobre o sistema de saúde, para citar um problema que tem mobilizado camadas cada vez mais amplas dos americanos?
- O que ele pensa sobre a desvalorização do dólar no mundo?
- Como ele pretende responder à questão dos déficits gêmeos?
- O que ele pensa sobre a tensão crescente entre EUA e China?
- Que resposta tem para os conflitos no Oriente Médio?
- Que política deve substituir a atual no que respeita ao combate ao terrorismo?

Eu não sei. Ninguém sabe. Obama só faz sucesso porque tem uma idéia na cabeça, porque tem um sonho: “Obama precisa ser eleito presidente dos Estados Unidos”. E por que precisa? Para demonstrar que a América voltará a ser uma terra de oportunidades. Embora ele se negue a tratar de qualquer um dos problemas reais dessa mesma terra. Ao contrário: tem-se colocado como o candidato que vai romper com a tradição, com o establishment. Há um fundo regressivo e autoritário em sua postulação. E qual é?

Se ele não se eleger presidente dos EUA, então o país não é aquilo que diz ser. Sim, a construção de sua figura obedece mais ou menos ao mesmo figurino do Lula de 2002 no Brasil. Obama seria a negação da política americana e, por isso mesmo, o melhor nome para reformar a... política americana. Desculpem-me: é uma formulação essencialmente ilógica, pura picaretagem intelectual.

Os mais espertos poderiam indagar: por que não fazer essas mesmas questões aos demais candidatos? Porque eles não se apresentam como uma novidade - não no sentido da propaganda do senador ao menos. Ao contrário: são seus alvos; são acusados de meros caudatários ou procuradores de uma tradição com a qual ele pretende romper. Aí não dá. Obama é “Osama” no sentido de que se apresenta como o demolidor da velha América que, vejam só!, deu à luz... Obama.

Os americanos darão o cargo mais importante do mundo a um enigma, que vem com uma mensagem de, como é mesmo?, “renovação da política?” Conto com aquele meião classe média da América para impedir que isso aconteça. E tomara que os republicanos tenham juízo e escolham um nome competitivo para enfrentar, acho, Hillary Clinton. E mais ainda se o adversário for Osama – quero dizer, Obama.

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