No caso, as figuras citadas já são suficientemente eloqüentes. Lobão Filho, o Edinho, caminha a passos largos para ser ex-senador, sem nunca ter sido. Ficou aparentemente decidido que ocupará a cadeira do pai o tempo estrito para entrar com um pedido de licença, a fim de se defender das acusações que Lobão sênior diz serem todas "injustas e falsas". Balela. O problema dele, para os titeriteiros do PMDB no Senado, é a sua filiação - partidária, bem entendido. Pois, diferentemente do pai, continua no DEM, e não serão os peemedebistas que premiarão a bancada do antigo PFL com mais uma vaga. De resto, não seria desejável que o discreto Lobão da Esplanada coexistisse, no noticiário político, com um Lobão parlamentar iluminado por denúncias. Uma, a de ter usado uma doméstica como laranja de uma distribuidora de bebidas endividada com o Fisco e que seria uma empresa de fachada. Outra, a de apagar os registros públicos de 3 mil notas fiscais de uma segunda firma de que seria sócio oculto.
Uma terceira, a de ter operado uma TV clandestina em 1999 - o rapaz é precoce. Outra, a de ter arrendado irregularmente a TV Difusora de Imperatriz a uma ONG. Essa é de agora. O jovem empreendedor, que passou de padeiro a diligente empresário nos ramos imobiliário e de mídia, entre outros - coincidentemente quando o pai governava o Maranhão, entre 1991 e 1994 -, teria ainda se beneficiado de irregularidades na concessão de emissoras de rádio e TV. Nada de deixar de queixo caído eleitores e contribuintes. Afinal, no Senado, até há pouco presidido pelo notável pecuarista Renan Calheiros, são 30 (ou 37% do total) as excelências implicadas em processos judiciais e no Tribunal de Contas. Na Câmara, são 163 deputados (ou 32%). Já o sub do sub do velho Lobão parece ter no armário esqueletos igualmente comprometedores. Ele teria sido um dos 10 beneficiários de um esquema de desvio de dinheiro da prefeitura do município maranhense de São Bento, quando detinha as chaves do seu cofre. Indiciado pela Polícia Federal, foi denunciado pelo Ministério Público por crime de responsabilidade e peculato. Pelo menos ele foi absolvido, por falta de provas, de uma escabrosa acusação levantada por sua ex-mulher.
Inocentado, o novo ministro também o foi das acusações de corrupção de que foi alvo na CPI do Orçamento, em 1993. Político astuto, sabe que a derrota da ministra Dilma Rousseff, que quebrou lanças contra a sua nomeação, pode se revelar, para ele, uma vitória de Pirro. Apressou-se, pois, a fazer as expressões corporais apropriadas ao momento, para não exacerbar o antagonismo da ainda dona da área energética. Começou ressaltando que não recebeu o Ministério em regime de porteira fechada, o que significaria a entrega das jóias da coroa do setor ao PMDB. Mas um dos nomes que citou para a secretaria executiva da Pasta, o do outrora prefeito paulistano Miguel Colasuonno, tesoureiro do PMDB no Estado, foi indicação de Orestes Quércia. Lobão ainda fez questão de esbanjar humildade ao declarar que irá consultar "sempre que precisar" a titular da Casa Civil.
Provavelmente, não julgou necessário consultá-la antes de anunciar, em entrevista à Folha de S.Paulo, que defenderá a construção de uma usina nuclear no Nordeste. Trata-se de um homem de idéias. No ano passado, propôs o desmembramento do seu Estado, com a criação de um Maranhão do Sul, cuja capital ficaria em Imperatriz, centro de suas bases eleitorais. Um dos municípios da região se chama Governador Edison Lobão.