O GLOBO EDITORIAL,
O mundo ainda se alegra com a libertação de Clara Rojas e de Consuelo González, após seis anos em poder das Farc, e com a notícia de que o filho de Clara, Emmanuel, já estava a salvo em Bogotá. A narcoguerrilha colombiana fez o desagravo que pretendia a Hugo Chávez. E o líder venezuelano capitalizou como havia planejado, num autêntico show de mídia. É bom lembrar que nada disso teria sido possível sem a anuência do presidente da Colômbia, Alvaro Uribe. Que, aliás, agradeceu a intervenção de Chávez.
Mas a esperança criada pela soltura de Clara e Consuelo pode rapidamente dar lugar ao desânimo. Chávez não esperou 24 horas para revelar suas reais intenções no papel de mediador.
Ontem, ele exortou os governos do continente e da Europa a retirarem as Farc da lista de organizações terroristas como condição para normalizar as relações da Venezuela com a Colômbia. E classificou de “bolivariano” o projeto político do grupo, incluindoo em seu guarda-chuva sulamericano, que tem Cuba como inspiradora, a Argentina como “área de influência”, dependente financeiramente, e Bolívia e Equador como discípulos.
Ora, as Farc são reconhecidamente uma guerrilha esquerdista que perdeu o rumo, transformandose num pesadelo armado para a Colômbia, com seu triste séquito de reféns (mais de 700) e suas ligações com o narcotráfico. Ontem, elas voltaram a insistir em sua exigência tradicional para negociar um acordo humanitário com o governo colombiano: a criação de uma nova zona desmilitarizada, condição reiteradamente rejeitada por Uribe, e com razão: as Farc já controlam partes do território do país; não faria sentido entregar-lhes mais de mão beijada.
A mudança no status internacional das Farc pretendida por Chávez só faz sentido para ele; não interessa nem à Colômbia nem à América Latina. Devem ficar restritos ao campo militar os contatos com a narcoguerrilha que não disserem respeito à libertação de novos reféns.
Não há contemporização possível com um bando que faz de gente inocente moeda de troca por guerrilheiros presos por um governo democraticamente eleito de um Estado legalmente constituído.
Entrevista:O Estado inteligente
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