Dora Kramer - Conflito permanente |
O Estado de S. Paulo |
11/1/2008 |
O cenário é municipal, mas a crise federal que o PSDB enfrentou dois anos atrás, na decisão sobre quem seria o oponente do presidente Luiz Inácio da Silva na eleição presidencial, vai se repetindo agora na escolha do candidato a prefeito de São Paulo. De um lado, o grupo do governador José Serra defendendo a aliança com o Democratas em torno do nome do prefeito Gilberto Kassab; de outro, os aliados de Geraldo Alckmin em prol da candidatura do ex-governador, candidato derrotado à Presidência em 2006. Na época, foram quase três meses, de janeiro a meados de março, de tensão e troca de ataques surdos, eivados pela desconfiança mútua, contaminados pelo veneno da discórdia, mas apresentados oficialmente no invólucro dourado do discurso oficial em favor da unidade partidária. Agora, mal começou janeiro, assistem-se às mesmas cenas, ouvem-se as mesmas justificativas, um grupo acusando o outro, ambos dizendo-se conscientes de que, dividido, o PSDB fará “um jogo de soma zero com viés de derrota”, para usar a expressão de um tucano que, como todos os envolvidos diretamente na pendenga, só abre a guarda sob a proteção do anonimato. Ninguém quer dar motivo para a ruptura oficial, todo mundo aposta numa solução, embora não se vislumbre a disposição do primeiro passo. Na seara serrista argumenta-se que Geraldo Alckmin precisa “se convencer” de que o melhor para o partido é sua candidatura a governador em 2010; entre os alckmistas, espera-se de José Serra “um gesto” de reconhecimento da importância política do adversário. Parece inadequada a aplicação do termo quando se trata de políticos do mesmo partido. Mas não há outra forma de dizer sem maquiar a realidade: são adversários e ponto. Serra tem o governo do Estado e a prefeitura nas mãos. Dos 55 cargos de comando no município, 37 são ocupados por tucanos aliados do governador, cuja área de influência se estende à Câmara Municipal, à Assembléia Legislativa e à bancada de deputados federais, mais parcela significativa da máquina do partido. Mas Alckmin também tem ascendência sobre parlamentares e correligionários. Em termos eleitorais propriamente ditos dispõe do patrimônio principal: é campeão de intenções de voto nas pesquisas. Com base nesse capital, seus aliados acharam um desaforo - para dizer o mínimo - o fato de não receberem o tratamento que consideram o merecido: participação efetiva na administração e reverência política; sentem-se alijados. Alegam, por exemplo, que o governador poderia ter trabalhado para eleger Alckmin presidente do partido, a fim de dar a ele uma tribuna nacional enquanto está sem mandato. Águas passadas, dizem, mas ainda turvas o bastante para inocular o vírus da desconfiança na sinceridade do propósito dos serristas de apoiarem Alckmin para o governo de São Paulo em 2010. O grupo de ex-governador, na verdade, não parece preocupado com 2010. Quer saber do aqui e agora. Sentiu que a supremacia nas pesquisas lhe dava um bom cacife e resolveu agir para não perder espaço. Para os oponentes, todo o foco é voltado para 2010 e a candidatura Serra a presidente da República. Argumentam que para isso é importante manter a prefeitura e essencial garantir a eleição de um tucano para o governo do Estado. Como reconhecem que o tucano primeiro e único em condições de ganhar é Alckmin, querem que ele espere e ajude a aliança DEM/PSDB a ganhar com Kassab agora. Vitória, dizem, só possível de ser alcançada se houver unidade. Na briga - seja ela na forma da apresentação das duas candidaturas ou na imposição de derrota de um grupo sobre o outro - o fracasso é o cenário mais provável. O problema é que, como ninguém confia em ninguém, ninguém fala francamente com ninguém, prevalece a dinâmica do conflito permanente. E, nele, só o PSDB tem a perder. Gilberto Kassab ganha em qualquer hipótese - disputando ou não, vencendo ou não o pleito - e o PT, no máximo, continua sem a prefeitura. Mas pode recuperá-la se o DEM entrar na disputa com a máquina da prefeitura na mão e o PSDB disputar com Alckmin em clima de guerra de extermínio, sem o apoio do governo do Estado e, mesmo assim, com todos os tucanos vendo-se obrigados a deixar seus postos na prefeitura. Talvez seja cedo para vaticinar a reedição total da crise de 2006. Mas os grandes desastres são construídos assim: um mau passo puxa o outro e, juntos, cavam um fosso profundo. Comissão de Poderes “Seria uma forma de assegurar a harmonia entre os Poderes, reduzir o potencial de conflito, dividir responsabilidades e não fazer as coisas aos pontapés”, justifica Temer. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, janeiro 11, 2008
Dora Kramer - Conflito permanente
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