“A mídia é golpista” A afirmação, se feita por Paulo Henrique Amorim ou Mino Carta, logo assume um aspecto caricato, até ridículo. Evidentemente, ninguém, a não ser alguns incautos, levam a coisa a sério. É evidente que a biografia do acusador não faz necessariamente a qualidade da acusação. Mas sempre é interessante saber quem está falando. No caso, a frase se perde em trajetórias, sabemos, um tanto rocambolescas. Mas, aqui e ali, notam-se versões menos virulentas da mesma proposição.
A idéia de que há um braço-de-ferro entre a mídia e o governo está, por exemplo, na raiz da criação da TV Pública, a Lula News de Franklin Martins e Tereza Cruvinel, e assombra boa parte das redações, que, então, fazem um esforço danado para provar a sua neutralidade. Qual é a manifestação mais evidente disso? É o franco-atirador das convicções. O que é isso? Para não entrar em considerações teóricas — porque não há teoria a respeito ainda —, dou um exemplo prático: é aquele incapaz de criticar Lula e seu governo sem desancar, no mesmo texto e ao mesmo tempo, FHC e seu governo. Ao fazê-lo, julga ficar com as mãos tão limpas quanto as de Pilatos. Aliás, fica mesmo...
Parte do jornalismo está hoje um tanto acuada — necessidade que não tinha durante o governo FHC — pelo desafio de “provar” (a quem?) que não faz apenas jornalismo do contra; que também é capaz de ficar feliz com a “descoberta” da mega-reserva de petróleo de Tupi; que isso, como quer Elio Gaspari, pode “fazer bem à alma”. E a seqüência de batatadas que se seguiu ao anúncio passou quase sem crítica e considerações. Não custa lembrar: Dilma Rousseff pôs o Brasil entre as nações exportadoras; comprando uma provocação de Chávez, Lula falou de um Brasil na Opep, onde lutaria para baixar o preço do petróleo (seria o primeiro cartel da história a fazê-lo...). O país tem hoje 14 bilhões de barris em reservas. Digamos que Tupi tenha 8 bilhões. São 22 bilhões. Considerando o consumo — que se supõe crescente — o Brasil terá petróleo, sei lá, por 10 anos.
Não é só isso. É melhor ter petróleo do que não ter, eu sei. Li quase todas — não digo “todas” porque alguma deve ter escapado — as matérias sobre essa mega-reserva publicadas nos últimos dois anos. Não há novidade. Mesmo. Os coleguinhas jornalistas não precisam acreditar na minha leitura. Perguntem a algum técnico da Petrobras ou a quem na empresa esteja autorizado a falar: “Quantos bilhões de barris há em Tupi?” E não haverá resposta nenhuma além de um chute. Sabe-se hoje o que se sabia há dois anos: há petróleo lá, na tal camada pré-sal, de qualidade superior àquele que se produz hoje. Cinco bilhões de barris, oito bilhões ou 50 bilhões? Assim como acontece com o fundo das consciências, por enquanto, só Deus conhece o que há nesse outro fundo.
Ódio ao capitalismo
Mais: a reestatização já em curso do setor petroquímico ganhou um novo fôlego com o rebuliço de Tupi. O Brasil não é o único país do mundo em que uma parte dos jornalistas que escrevem sobre economia tem ódio do capitalismo e dos capitalistas. Mas certamente é onde eles são mais ousados. Justifica-se a exclusão do leilão das áreas próximas a Tupi com a máxima de que, por enquanto, ninguém sabe o que tem lá. Não? Mas a agitação provocada nas ações da Petrobras — que anunciaria um mau resultado 24 horas depois — não dá conta de que, afinal, se sabe o que tem lá? As empresas candidatas a explorar aquelas áreas são meras aproveitadoras de nossas riquezas ou exercem a sua atividade segundo regras vantajosas ao país e a elas próprias? O Brasil só aceita o princípio do leilão se não estiver certo da existência de petróleo ou se achar que só há um pouquinho? Se você não vibra com Tupi, está com a alma doente. Se não apóia a decisão de suspender o leilão, então é lobista.
Jamais se viu uma operação de mídia tão bem-sucedida quanto esta da Petrobras. Preocupada em demonstrar que sabe ficar com a “alma alegre”, como cobra Elio Gaspari, abriu-se mão da memória e da lógica. Quando algum aporte crítico é convocado a comparecer ao debate, para demonstrar que está de mãos limpas, parte dos valentes aproveita para dar umas porradas em FHC. Afinal, por que não? Risco zero. E o PT ainda fica contente e premia o crítico com a estrelinha vermelha da isenção...
Telecom Italia
Outro caso, a esta altura, escandaloso de omissão de muitos setores diz respeito à Telecom Italia. Não se enganem. As matérias da imprensa italiana a respeito do caso não dizem respeito à Itália, não, mas ao Brasil mesmo, reforçando com uma pletora de dados (ver posts às 23h321 e 23h56 de ontem) o que Diogo Mainardi, colunista da VEJA, havia apontado em mais de uma coluna.
Atenção: há dirigentes da empresa que estão presos. Um dos vigaristas optou pela delação premiada e faz acusações a autoridades e políticos brasileiros, endossadas pela investigação da Polícia e do corresponde de lá ao nosso Ministério Público. Uma brasileira é testemunha importante no caso. E, no entanto, o silêncio da chamada grande imprensa é sepulcral. E o mais irônico: uma parte do "jornalismo" (bem cheio de aspas...), comprometida com a própria acusação, lança suspeitas até sobre a investigação que se faz na Itália: ela seria favorável a Daniel Dantas...
Volto ao ponto: as acusações de que a mídia é golpista ou antigovernista não são assim tão irrelevantes quanto parecem. E a razão é simples: ela própria se deixa intimidar por essa histeria falaciosa e passa, em parte, a fazer o que o poder espera dela:
- tenta demonstrar que está com a “alma feliz”;
- ignora alguns temas espinhosos;
- exercita o estilo "nem-nem" ou "contra-contra".
Desconfiem. Isso me lembra o tempo em que os "funcionários do socialismo" na imprensa só falavam mal do regime soviético se, antes, batessem no capitalismo. Era a patrulha em ação. É isto: parte da imprensa está sob monitoramento petista.
A idéia de que há um braço-de-ferro entre a mídia e o governo está, por exemplo, na raiz da criação da TV Pública, a Lula News de Franklin Martins e Tereza Cruvinel, e assombra boa parte das redações, que, então, fazem um esforço danado para provar a sua neutralidade. Qual é a manifestação mais evidente disso? É o franco-atirador das convicções. O que é isso? Para não entrar em considerações teóricas — porque não há teoria a respeito ainda —, dou um exemplo prático: é aquele incapaz de criticar Lula e seu governo sem desancar, no mesmo texto e ao mesmo tempo, FHC e seu governo. Ao fazê-lo, julga ficar com as mãos tão limpas quanto as de Pilatos. Aliás, fica mesmo...
Parte do jornalismo está hoje um tanto acuada — necessidade que não tinha durante o governo FHC — pelo desafio de “provar” (a quem?) que não faz apenas jornalismo do contra; que também é capaz de ficar feliz com a “descoberta” da mega-reserva de petróleo de Tupi; que isso, como quer Elio Gaspari, pode “fazer bem à alma”. E a seqüência de batatadas que se seguiu ao anúncio passou quase sem crítica e considerações. Não custa lembrar: Dilma Rousseff pôs o Brasil entre as nações exportadoras; comprando uma provocação de Chávez, Lula falou de um Brasil na Opep, onde lutaria para baixar o preço do petróleo (seria o primeiro cartel da história a fazê-lo...). O país tem hoje 14 bilhões de barris em reservas. Digamos que Tupi tenha 8 bilhões. São 22 bilhões. Considerando o consumo — que se supõe crescente — o Brasil terá petróleo, sei lá, por 10 anos.
Não é só isso. É melhor ter petróleo do que não ter, eu sei. Li quase todas — não digo “todas” porque alguma deve ter escapado — as matérias sobre essa mega-reserva publicadas nos últimos dois anos. Não há novidade. Mesmo. Os coleguinhas jornalistas não precisam acreditar na minha leitura. Perguntem a algum técnico da Petrobras ou a quem na empresa esteja autorizado a falar: “Quantos bilhões de barris há em Tupi?” E não haverá resposta nenhuma além de um chute. Sabe-se hoje o que se sabia há dois anos: há petróleo lá, na tal camada pré-sal, de qualidade superior àquele que se produz hoje. Cinco bilhões de barris, oito bilhões ou 50 bilhões? Assim como acontece com o fundo das consciências, por enquanto, só Deus conhece o que há nesse outro fundo.
Ódio ao capitalismo
Mais: a reestatização já em curso do setor petroquímico ganhou um novo fôlego com o rebuliço de Tupi. O Brasil não é o único país do mundo em que uma parte dos jornalistas que escrevem sobre economia tem ódio do capitalismo e dos capitalistas. Mas certamente é onde eles são mais ousados. Justifica-se a exclusão do leilão das áreas próximas a Tupi com a máxima de que, por enquanto, ninguém sabe o que tem lá. Não? Mas a agitação provocada nas ações da Petrobras — que anunciaria um mau resultado 24 horas depois — não dá conta de que, afinal, se sabe o que tem lá? As empresas candidatas a explorar aquelas áreas são meras aproveitadoras de nossas riquezas ou exercem a sua atividade segundo regras vantajosas ao país e a elas próprias? O Brasil só aceita o princípio do leilão se não estiver certo da existência de petróleo ou se achar que só há um pouquinho? Se você não vibra com Tupi, está com a alma doente. Se não apóia a decisão de suspender o leilão, então é lobista.
Jamais se viu uma operação de mídia tão bem-sucedida quanto esta da Petrobras. Preocupada em demonstrar que sabe ficar com a “alma alegre”, como cobra Elio Gaspari, abriu-se mão da memória e da lógica. Quando algum aporte crítico é convocado a comparecer ao debate, para demonstrar que está de mãos limpas, parte dos valentes aproveita para dar umas porradas em FHC. Afinal, por que não? Risco zero. E o PT ainda fica contente e premia o crítico com a estrelinha vermelha da isenção...
Telecom Italia
Outro caso, a esta altura, escandaloso de omissão de muitos setores diz respeito à Telecom Italia. Não se enganem. As matérias da imprensa italiana a respeito do caso não dizem respeito à Itália, não, mas ao Brasil mesmo, reforçando com uma pletora de dados (ver posts às 23h321 e 23h56 de ontem) o que Diogo Mainardi, colunista da VEJA, havia apontado em mais de uma coluna.
Atenção: há dirigentes da empresa que estão presos. Um dos vigaristas optou pela delação premiada e faz acusações a autoridades e políticos brasileiros, endossadas pela investigação da Polícia e do corresponde de lá ao nosso Ministério Público. Uma brasileira é testemunha importante no caso. E, no entanto, o silêncio da chamada grande imprensa é sepulcral. E o mais irônico: uma parte do "jornalismo" (bem cheio de aspas...), comprometida com a própria acusação, lança suspeitas até sobre a investigação que se faz na Itália: ela seria favorável a Daniel Dantas...
Volto ao ponto: as acusações de que a mídia é golpista ou antigovernista não são assim tão irrelevantes quanto parecem. E a razão é simples: ela própria se deixa intimidar por essa histeria falaciosa e passa, em parte, a fazer o que o poder espera dela:
- tenta demonstrar que está com a “alma feliz”;
- ignora alguns temas espinhosos;
- exercita o estilo "nem-nem" ou "contra-contra".
Desconfiem. Isso me lembra o tempo em que os "funcionários do socialismo" na imprensa só falavam mal do regime soviético se, antes, batessem no capitalismo. Era a patrulha em ação. É isto: parte da imprensa está sob monitoramento petista.