Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 20, 2007

Fechando o cerco


EDITORIAL
O Globo
20/11/2007

A menos de duas semanas do referendo que tende a lhe conferir poderes quase absolutos na Venezuela, o presidente Hugo Chávez se dedica a uma de suas especialidades: produzir declarações bombásticas e factóides que garantam manchetes mundo afora e uma envergadura quiçá maior do que a real.

Chávez garantiu sobrevida longa ao incidente com o rei Juan Carlos, que o fulminou com um "Por que não te calas?" na reunião ibero-americana de Santiago, ao convocar duas entrevistas coletivas sobre o assunto, comparar-se a Jesus Cristo perseguido e até cunhar, dias depois, uma frase em resposta: "Senhor rei, não me calarei."

De Santiago para a reunião da Opep, em Riad, Arábia Saudita, foi um pulo. E ali, no nababesco Palácio de Conferências do rei Abdulaziz, ele conclamou seus colegas a relançar a "Opep revolucionária", prevendo que "a queda do dólar é a queda do império" (americano). Pouco importa que os pesos-pesados árabes tenham sido muito mais cautelosos na declaração final, e prometido manter o fornecimento de petróleo ao mercado internacional de forma "suficiente e confiável". Ontem, Chávez já estava em Teerã com o aliado iraniano Mahmoud Ahmadinejad, discutindo uma estratégia para converter a Opep em mecanismo de pressão contra o "inimigo" comum - os EUA. A quem continua vendendo petróleo.

A alta dosagem de marketing bolivariano não oculta a real escalada chavista para erradicar o que ainda resta de liberdades democráticas na Venezuela. Entre elas, a de expressão. Pois nem cessaram os ecos negativos da cassação, em maio, do sinal aberto da RCTV - substituída por uma pífia rede estatal - e já se prepara o governo para calar outra TV independente - a Globovisión, um canal de notícias 24 horas com audiência de classe média e média alta. A alegação é de que ela transmite "programação parcial". Se o problema é parcialidade, o que dizer da rede estatal criada por Chávez para informar apenas o que lhe interessa?

Não é coincidência o fato de outro canal de TV estar em perigo no momento em que cresce a oposição, até dentro do chavismo, à reforma constitucional a ser submetida ao povo no dia 2, e que poderá dar tons ainda mais totalitários ao regime.

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