Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 20, 2007

Eliane Cantanhede - Suadouro




Folha de S. Paulo
20/11/2007

Vem feriado, vai feriado, e cá estamos nós ainda discutindo Hugo Chávez, que usa como ninguém o "falem mal, mas falem de mim". E Lula? Não há surpresa quando sai em defesa do colega venezuelano. É o que ele tem de fazer.
Primeiro, Chávez é assim mesmo, confunde tanto aliados quanto adversários. Segundo, Lula já não tem paciência para o chavismo e o bolivarianismo, mas sabe que o resultado para o Brasil é excelente. Em números: mais de US$ 4,5 bi de exportações de manufaturados.
Mas não pense que é fácil para o Lulinha, com aquela vaidade toda, sair por aí fazendo a defesa do venezuelano. Quer um exemplo do que Chávez faz com os outros?
Em 20 de setembro, Lula e Chávez se encontraram em Manaus, um dos maiores, senão o maior, reduto lulista do país. O cerimonial do Planalto pediu ao governador, ao vice e ao prefeito de Manaus que recepcionassem o visitante estrangeiro. E o que Chávez fez? Ficou trancado no avião uns 40 minutos, deixando as autoridades locais em pé, de terno e gravata, sob o sol escaldante (você conhece o calorzinho de Manaus?), até dar o ar da graça.
Não é tudo. Os serviços de inteligência do Brasil descobriram que Caracas patrocinou cinco ônibus com dezenas de pessoas de Pacaraima, a mais de 850 km de Manaus, para aplaudir Chávez e deixar escapar vaias para Lula, com quem queriam discutir a demarcação de terras indígenas. A intenção: colocar Lula numa saia justa.
Quem vê os dois juntos percebe que Chávez visivelmente fica dono da situação e constrange Lula, mas este se beneficia da comparação com o venezuelano entre os investidores internacionais e vive comemorando os superávits comerciais do Brasil com a Venezuela.
Lula faz justamente o que o rei Juan Carlos não fez: engole calado e só abre a boca para defender Chávez -ou melhor, o que Chávez representa, em especial para o Brasil.

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