Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 04, 2007

ELIANE CANTANHÊDE

O mundo está de olho

BRASÍLIA - Lula não dá bola para o PT, cooptou parte da esquerda, comprou parte da direita, uniu os cacos do PMDB e está engolindo o PSDB. Praticamente só os extremos escapam de seus encantos, ou de suas garras: PSOL e DEM.
Quando governo e oposição sentam à mesa para negociar o que é melhor para o país, só merecem aplausos. Mas a prorrogação da CPMF é antes de mais nada pretexto para uma aproximação que vai longe. Às eleições de 2008 e de 2010, por exemplo.
Peguemos um bom caso: o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, era o mais estridente crítico do governo, até olhar em volta no Amazonas, onde Lula teve mais de 80% dos votos, e perceber que bater de frente contra ele é quebrar a cara e ameaçar a carreira. Melhor agarrar-se à CPMF, sentar e negociar -como, aliás, o PT jamais fazia no governo FHC, quando valia o "quanto pior [para o governo], melhor [para eles, petistas]".
Esse quadro tem a seguinte moldura: um sistema presidencialista forte, o presidente com 60% de popularidade e o partido do presidente, ferido, sem candidatos visíveis a olho nu para a sucessão. Está na nossa cara e na parede de Lula: a tentativa de re-reeleição é muito improvável, não impossível.
Lula, seus ministros e líderes vão jurar que não, dia sim e outro também, enquanto o PT, prevenido, vai tocando seus projetos continuistas, para o caso de necessidade. Nunca se sabe o dia de amanhã.
Por sorte, o mundo é globalizado, existe uma guerra de foice por investimentos externos, e a Copa vem aí em 2014. Se depender da "oposição" ou de um plebiscito dentro do Brasil, a re-reeleição terá boas chances. Mas, se depender de qualquer consulta fora do Brasil, será radicalmente rechaçada.
A esta altura, o que contém Lula é o medo de ser confundido externamente com o bolivarianismo chavista. É isso que ainda salva o Brasil do terceiro mandato.

elianec@uol.com.br

Arquivo do blog