Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 14, 2007

De novo, às armas


Artigo - Antonio Delfim Netto
Folha de S. Paulo
14/11/2007

A INTEGRIDADE geográfica nacional, ampliada nos séculos 16 a 18 pelo espírito de aventura dos brasileiros, foi a maior herança do Império. O Brasil é um dos países com maior número de vizinhos, dez, com os quais mantém, pelo menos há um século, relações amigáveis e respeitosas.
Os seus problemas de fronteiras foram resolvidos no início do período republicano pela inteligência, habilidade e competência histórica de um extraordinário funcionário público que amava a vida e o trabalho, o senhor José Maria da Silva Paranhos Júnior, o barão do Rio Branco. Em 1895, resolveu a Questão de Palmas com a Argentina e, em seguida, o problema da fronteira do Amapá com a Guiana Francesa. Foi ministro das Relações Exteriores de 1902 a 1912, quando resolvemos todos os demais litígios fronteiriços (1903, com a Bolívia, com a compra do Acre; 1907, com a Guiana Holandesa e a Colômbia, e em 1909, com o Peru e o Uruguai).
Mais recentemente, os ilustres presidentes Sarney e Alfonsín, num gesto ousado, eliminaram a irritante "questão militar" que incomodava as relações do Brasil com a Argentina: transformaram em cooperação uma insensata disputa pela hegemonia do domínio da energia nuclear. Talvez essa importante contribuição à história nacional justifique o desconforto do senador Sarney com a admissão apressada da Venezuela (não a do país, mas a do construtor do "homem novo" do socialismo do século 21) no Mercosul.
É ridículo fingir desconhecer, como fez a Câmara Federal, que a forma de conquista e consolidação do poder por Chávez desrespeita a democracia. Esta envolve, pelo menos, 1) independência dos Poderes; 2) disputa eleitoral limpa, com respeito às minorias; 3) condições de igualdade para todos os partidos no processo eleitoral e 4) plena liberdade de imprensa e de organização das forças políticas. Essa é a "democracia" que é condição necessária para a admissão no Mercosul e que a Venezuela de Hugo Chávez não satisfaz.
Além do mais, é claro que Chávez promove, mesmo, uma corrida armamentista. Talvez ela não ameace diretamente o Brasil, como declarou candidamente seu assessor militar, o general Alberto Rojas, mas é impossível desconhecer que a Venezuela tem um grave problema de fronteira com a Colômbia e outro horrível com a Guiana.
Têm razão o presidente Lula e o ilustre ministro Jobim quando advertem que o Brasil não participa da corrida. Precisa somente modernizar e ampliar a força operacional das nossas Forças Armadas com substancial aumento de investimento...

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