Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 07, 2007

Compromisso moral



Artigo - Antonio Delfim Netto
Folha de S. Paulo
7/11/2007

FEZ MUITO bem o presidente Lula de intervir, pessoal e urgentemente, no trágico episódio do "racionamento" físico do fornecimento de gás. Ele não pode dizer que "não sabia" -como disse FHC quando surpreendido pelo apagão elétrico que cobrou 2% do PIB em 2001.
Em 2004, o governo iniciou, por meio da Petrobras, a política de estimular o setor privado a substituir sua energia por gás. Foi concedido um subsídio escondido no preço e uma diferenciação tributária que o transformou, artificialmente, na melhor alternativa energética para alguns cidadãos (os taxistas, por exemplo, que transferem parte para os passageiros) e para algumas indústrias.
O "mercado", acreditando no governo, aumentou a demanda da energia que lhe proporcionava uma vantagem. Era sabido, portanto: 1º) que a demanda de gás iria crescer; 2º) que, para supri-la, seria preciso antecipar o aumento da oferta e 3º) que qualquer diferença de velocidade no crescimento da demanda e da oferta só poderia ser corrigida por um racionamento "físico" (como aconteceu) ou por um racionamento pelo "preço" (que está para acontecer, como disse, aliás corretamente, o doutor Gabrielli).
As dúvidas do setor privado sobre a capacidade da Petrobras de fornecer todo o gás que prometeu são antigas: havia suspeita (agora confirmada) de que ela estivesse num estado "quântico", quando algumas pessoas acreditam ser possível destinar a mesma molécula para dois usos diferentes...
Quando, por exigência do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), teve de cumprir o compromisso com as usinas a gás, ela eliminou o excedente que vinha fornecendo acima dos contratos para as distribuidoras estaduais, em nome do louvável e absolutamente certo princípio de que "tinha de honrar os contratos".
Como ninguém pode exigir-lhe que faça o fisicamente impossível (suprir gás de que não dispõe), empurrou sobre as distribuidoras a obrigação de assumir o racionamento. O problema é que a desculpa é correta, mas inaceitável.
A verdade nua é que o governo assumiu, por intermédio da Petrobras, um compromisso moral (tão forte quanto os escritos que ela está honrando) com os ingênuos cidadãos que aceitaram a sua palavra como boa.
Paga agora o vexame de tê-los decepcionado por conta do comportamento insensato e inconfiável do "companheiro" andino, com quem vai ter de acertar-se mais uma vez...

O Brasil foi violado pelo "Ladrão Boliviano". Como em Nelson Rodrigues...

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