Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 02, 2007

CLÓVIS ROSSI

Crimes sem cabeças
MADRI - Em seu editorial de capa sobre o julgamento dos acusados pelo 11M (o atentado aos trens de Madri no dia 11 de março de 2004), o jornal "El País" diz o seguinte: "Significa uma vitória do Estado de Direito ante o terrorismo, em uma época em que abundam as respostas desproporcionadas e perigosas para as liberdades".
Tem razão: a Espanha não precisou invadir nenhum país nem criar uma Abu Ghraib ou uma Guantánamo para apurar, prender, processar e condenar os responsáveis pelos atentados. Mais: a sociedade espanhola deu provas de maturidade ao não cair em uma caça indiscriminada a muçulmanos como conseqüência dos 192 mortos e quase 2 mil feridos de 2004.
Mas há um porém significativo: nem o Estado de Direito nem os abusos cometidos em nome do combate ao terror conseguiram, até agora, dar conta da plena punição aos responsáveis.
Como mostrou ontem a Folha, só um dos acusados pelo 11 de Setembro nos EUA está preso, após a devida condenação. No caso da Espanha, faltaram no tribunal os mentores da operação.
Antigamente, quem praticava um atentado fazia questão de assumi-lo, porque a propaganda era parte inerente ao ato terrorista.
Agora, tanto na Espanha como nos EUA, e até nos ataques ao metrô de Londres, o mentor só aparece difusamente, às vezes bem mais tarde, em vídeos de cuja autenticidade é sempre possível duvidar.
Não estou dizendo que a Al Qaeda não exista. Só estou dizendo que esse modelo de repassar o terrorismo a uma franquia difusa é ainda mais perigoso e mais difícil de combater/punir. Até porque não tem uma reivindicação objetiva.
Imaginar que matar 192 pessoas em Madri faria a Espanha devolver Al Andalus aos árabes, reivindicação que aqui e ali aparece em vídeos e textos, é insano. Por isso mesmo é tremendamente mais perigoso.

Arquivo do blog