Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 21, 2007

Clóvis Rossi - O dólar e o ímã




Folha de S. Paulo
21/11/2007

Diz-se dos Bourbon, a dinastia que arrastou seu mando do século 16 até a Revolução Francesa, que não esqueciam, mas também não aprendiam. Parece valer igualmente para Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, e sua mais recente aventura no campo da retórica inflamada.
Chávez acha que a queda do dólar é o prelúdio da queda do "imperialismo norte-americano". Faz lembrar fatalmente a previsão de todas as esquerdas, no século passado, que viam, em cada crise, "a crise final do capitalismo".
Devo ter ouvido essa frase umas duzentas mil vezes, algumas delas com todo o ar de seriedade e ciência. Depois, virou folclore, até porque, antes da "crise final do capitalismo", deu-se a crise final do comunismo, o seu adversário. Não parece iminente, agora, o derretimento do capitalismo ou nem sequer dos Estados Unidos, sua meca.
Mas não deixa de ser irônico acompanhar a queda livre do dólar. Se eu fosse um nacionalista desses que se ofendem à menor crítica ao Brasil, por mais justa que seja, estaria me sentindo vingado de uma cruel ironia feita em janeiro de 1999 pelo então subsecretário norte-americano do Tesouro, Lawrence Summers.
Na noite em que o real derretia no Brasil, até com corrida aos bancos, Summers falava em Davos para uma pequena platéia e ironizava a moeda brasileira: não era real, mas virtual, dizia. Admito até que foi uma boa sacada.
Oito anos depois, daria para dizer algo parecido a respeito do dólar, como o faz Chávez? Não sei.
Sei que os latino-americanos deveriam se preocupar mais com o fato de que o país que o emite continua sendo um tremendo ímã para a turma ao sul do rio Grande, a ponto de 44 milhões já estarem nele instalados -um terço mais que toda a população venezuelana. Diz muito sobre crises, finais ou não.

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