Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 09, 2007

Clóvis Rossi - Entre Osasco e a Finlândia




Folha de S. Paulo
9/11/2007

O fato de um garoto ter saído disparando por sua escola na Finlândia deveria levar o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, a pedir a anulação dos Jogos Olímpicos de 1952, realizados equivocadamente naquele país, que, como fica demonstrado, não tem condições de segurança para abrigar qualquer tipo de evento.
Afinal, Teixeira usou o fato de que escolares matam escolares (nos Estados Unidos) para fugir de uma pergunta sobre a violência no Brasil. É típico do nacionalismo rastaqüera. Em vez de admitir francamente que o Brasil tem problemas gravíssimos (de segurança ou qualquer outro), olha-se para outro lado (ou país).
É óbvio que existe violência em outros países. Desde que Caim matou Abel é assim. Ninguém precisa ser Ph.D em segurança pública nem fazer frenéticas consultas no Google para descobrir o óbvio.
Daí a fugir do fato de que a violência no Brasil supera os números de qualquer país civilizado, e até de muitos em estágio semelhante de incivilidade, vai um abismo que só pode ser evitado com essa mentalidade tipicamente tapuia de não encarar os fatos jamais. Com o que, obviamente, os problemas se eternizam.
Menos mal que em camadas sociais desfavorecidas esse raciocínio nem sempre aparece. O leitor Talis Mauricio, estudante de jornalismo, conta que sua mãe, a professora Maria Emilia, fez uma pesquisa com alunos da 4ª série de uma escola municipal de Osasco, todos na faixa dos dez anos.
Aprovaram, sim, a Copa de 2014 no Brasil, mas houve quem perguntasse: "Como podemos receber pessoas de outros países sem nenhuma condição e estrutura, cheios de necessidades urbanas e também com muita violência?".
Ou quem dissesse: "A violência vai pegar mal com os turistas". Osasco olha para Osasco, não para a Finlândia, Canadá, EUA...

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