Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 11, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS

Lula embarcou na BRA

O presidente Lula transpirava animação ao irromper na sede da Embraer, à frente da gorda e risonha comitiva, na tarde de 21 de agosto. Depois do longo e tenebroso apagão, o Brasil voltara a voar em céu de brigadeiro. O ministro Nelson Jobim dera um jeito nas complicações de Congonhas. Semanas antes, em rede nacional, Lula confirmara a construção do terceiro aeroporto em São Paulo. E a companheirada da Anac fora enquadrada.

Agosto nem sempre é cruel, imaginou o presidente na penúltima terça-feira do mês historicamente aziago. As coisas estavam entrando nos eixos. Prova disso era o evento que presidiria em São José dos Campos: contrato assinado, seria oficialmente anunciada a compra de 20 jatos da Embraer pela BRA.

Parida em 1999 pelos irmãos Humberto e Walter Folegatti, que antes disso taxiavam nos hangares dos agentes de viagens, a empresa alcançara a maioridade aos oito anos - e com suficiente musculatura para encarar uma transação orçada em R$ 1,4 bilhão. Ponto para a Embraer. Ponto para a BRA. E ponto para Lula.

Mais uma vez, o campeão do improviso poderia infiltrar no palavrório a expressão que tanto aflige os pessimistas, os inimigos do povo, os incapazes de celebrar as grandezas da pátria. "Nunca antes neste país se vira um negócio daquele tamanho", disse a si mesmo ao empunhar o microfone.

Primeiro festejou a competência da Embraer, capaz de construir, como constatara a comitiva, até aviões com espaço suficiente para ministros grandalhões. "Nem o Jobim e o Miguel Jorge se queixaram das poltronas", alegrou-se. Afagado o vendedor, partiu para o abraço no comprador.

"Eu tenho certeza que nos próximos anos a BRA vai colher com o lucro e o crescimento do número de clientes pela aposta certa que está fazendo de acreditar cada vez mais na aviação regional", prognosticou em linguagem de pré-primário. Um dos irmãos Folegatti sorriu.

O orador retribuiu a gentileza tratando pelo prenome o dono do sorriso: "O que eu quero dizer, meu caro amigo Humberto, é que a BRA está dando uma demonstração de que não é o coração que é brasileiro, ou a cabeça que é brasileira", arremeteu o piloto de palanque. "Ela é uma empresa que acredita no crescimento da oferta de passageiros neste país para cumprir a demanda que eles vão oferecer".

Na quarta-feira passada, menos de 100 dias depois da festança, o improviso delirante de Lula estava entre os escombros da empresa quebrada por aventureiros amigos. Os 1.100 funcionários foram sumariamente dispensados. Todos os vôos foram suspensos. A BRA deixou de existir.

E os 70 mil bilhetes já emitidos? E os passageiros aprisionados em aeroportos distantes pela amputação do vôo de volta? "Isso não é problema do governo", lavou as mãos o ministro Nelson Jobim. Muito menos problema de Lula. O presidente esteve especialmente falante nesta semana. Mas não soltou sequer uma vírgula sobre a BRA. Sempre feliz, só falou de petróleo.

Cabôco Perguntadô

O Ministério do Planejamento adverte: a coisa vai ficar feia se o Senado mandar a CPMF para a sepultura. "O governo considera impossível cortar gastos", jura o ministro Paulo Bernardo. Sempre disposto a socorrer a pátria em perigo, o Cabôco tem duas sugestões a apresentar já de saída. Primeira: que tal interromper a gastança com centenas de ONGs suspeitíssimas? Segunda: não terá chegado a hora de mandar para casa milhares de companheiros que descansam em empregos federais?

Top-top-top na internet

Marco Aurélio Garcia, aquele do top-top-top, agora deu de brigar pela internet. A notícia foi transmitida por um leitor, que juntou ao recado cópia da correspondência eletrônica trocada com o assessor especial de Lula para complicações na África e na América Latina. Quem quiser conhecer o estilo desaforado de Garcia deve redigir algum comentário desfavorável ao governo e despachá-lo para o e-mail da Presidência da República ou ao da presidência do PT.

A resposta costuma chegar em menos de meia hora

CBF forma time de governadores

A serviço dos 12 governadores de Estado reduzidos a vassalos de Ricardo Teixeira depois da boca-livre em Zurique, 105 deputados federais e seis senadores desistiram de apoiar a instalação da CPI concebida para investigar as bandalheiras promovidas pela cartolagem do futebol brasileiro. Para livrar-se da Justiça, o presidente da CBF escalou o seguinte time: Cabral, Serra, Aécio, Wagner e Cid; Eduardo Campos, Alcides e Eduardo Braga; Arruda, Binho e Blairo.

É assim que se faz, senador

Com prazer, a coluna registra que o senador Delcídio Amaral encampou a sugestão publicada nesta página: enquadrou numa interpelação judicial as figuras que o acusaram de envolvimento com a quadrilha de mensaleiros patrocinada pelo governo de Mato Grosso do Sul.

Sem surpresa, a coluna registra que o senador Renan Calheiros se manteve em estrepitoso silêncio ao ser baleado por outra denúncia: cobrava propinas de bom tamanho para favorecer empresas de comunicação de Alagoas. Quem deve se cala.

A companheira Ana Júlia foi bem como bandeirinha.

Yolhesman Crisbelles

A taça da semana vai para o gaúcho Nelson Jobim, ministro da Defesa e gerente-geral do apagão aéreo, por uma declaração pinçada da discurseira sobre a queda de um jatinho perto do Campo de Marte, em São Paulo:

A fiscalização dos aviões particulares e táxis aéreos por organismos do governo existe. A eficácia dessa fiscalização é que é o problema.

O time existe, diria Jobim se fosse treinador de futebol. Acertar a bola e fazer gols é que é o problema.




Arquivo do blog