Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 14, 2007

Um Assunto Antigo, mas que Continua Atual

Fiquei puto porque, como pode um cidadão que nunca conversou comigo, que nunca tomou um copo de cerveja comigo,
que nunca tomou um copo d'água comigo, fazer uma matéria de que eu bebia. Isso me deixou muito puto.

Lula, bem ao estilo dele, se referindo ao jornalista do New York Times, que escreveu sobre seu hábito de beber.

O exórdio (frase do dia) de hoje, que é editorado por Adriana Vandoni, toca no assunto Lula x Larry Rohter, o jornalista do The New York Times, que escreveu sobre o fato do presidente beber mais que o desejado.
Escrevi antes da existência de P&P um artigo sobre o fato (21/5/2004), que reproduzo baixo:
FALTOU DIZER
Por Giulio Sanmartini

Nem sei se houve algum colunista formador de opinião no Brasil, que tenha deixado de escrever sobre o incidente Lula - Larry Rohter - The New York Times e o artigo “Hábito de beber de Lula se torna preocupação nacional” . No exterior foi notícia para a maioria dos jornais, mas li somente os italianos, especialmente Corriere della Sera, o mais importante do país, que deu destaque ao fato, lamentando a atitude do governo brasileiro em expulsar o jornalista. Governo de um Lula, que desde sua eleição fora transformado no benjamim da imprensa e da esquerda européia, mas que entrou em decadência, talvez por ter decepcionado com os anúncios de espetáculos nunca realizados. Foi oportunamente substituído pelo jovem primeiro ministro espanhol José Luis Zapateros, já que este de fato apresentou um espetáculo logo de início, retirando suas as tropas do Iraque.
Muitas coisas sobre o assunto foram repetitivas, falou-se à exaustão sobre a má qualidade da matéria do americano, da bebida de Churchil, de Jânio Quadros e até foram buscar os porres de Ulisses Simpson Grant (1822-85), comandante em chefe dos exércitos do Norte durante a Guerra de Secessão estadunidense e
depois presidente, sucedendo Abraham Lincoln. Vale dizer que estes três foram escritores e, exceto Jânio Quadros, também estadistas, o que não faz exatamente o perfil de Luiz Inácio Lula da Silva.
O fato do presidente beber não constitui novidade e nunca foi preocupação. A grande preocupação é seu despreparo para gerir os negócio de estado, para administrar as crises e sua facilidade em cria-las. O grupo palaciano especializou-se em elogiar e aplaudir tudo que provém do presidente. Lula tivesse mais um pouco de cultura, ou assessores menos submissos, saberia que um dos sete sábios da Grécia ao ser perguntado qual era o mais feroz dos animais disse: “Dos selvagens os tiranos e dos domésticos os bajuladores”. Portanto estes últimos, que o cercam em todos os momentos, são os piores conselheiros e é por orientação destes, que o presidente diz e faz suas trapalhadas.
Dessa corte fazem parte importante os marqueteiros, que se acham os mágicos, os criadores de “Lulinha paz e amor”, avocaram-se os méritos de ter levado à presidência da República um ex retirante nordestino, ex operário, ex líder sindical. Hoje determinam sobre tudo que o presidente deve fazer para manter sua popularidade, sentem-se como a mão que dá vida a um fantoche. Se dizem profissionais da comunicação, mas na realidade são ilusionistas que vendem algo diferente daquilo que entregam.
Foram eles que orientaram Lula a ser um apologista da falta de instrução, a continuar cometendo erros de português em sua fala para identificar-se com o povão (por sorte não regrediram ao “menas gente” ou ao “ni mim”), a pensar-se um sábio por usar metáforas de almanaque de farmácia, a sentir-se poderoso, recusando-se a vestir casaca numa recepção com o rei da Espanha, ser grosseiro em suas observações sobre a Mamíbia e a Índia, ou a dizer que “acordara invocado” e resolvera ligar para o presidente dos Estados Unidos da América. Ficamos sem saber se ele ligou, se o presidente daquele país o atendeu, se o fez o que falaram e como falaram (me parece que ambos são monoglotas) e se Bush, por seu lado, também estava invocado?
Luis Inácio Lula da Silva, filho de mãe analfabeta (desde o nascimento), cursou somente o primário, não teve recursos de ir adiante, mas quando os teve não quis fazê-lo, achou-se “doutor” diplomado com louvor na “escola da vida”. Entorpecido pelo poder e vivendo a onipotência dos que ignoram, começou a lançar frases lamentáveis: “preguiça desgramada” de ler, “não é livro que ensina a governar”. Engana-se o presidente, ensina sim e muito, vamos aos fatos. Pelo que entendi ao ler a tradução da tal reportagem, o que o “invocou”, o fez dar murros na mesa e dizer palavrões foi essa parte: “A imprensa brasileira já descreveu repetidas vezes o pai do presidente, Aristides, a quem ele mal conheceu e que morreu em 1978, como sendo um alcoólatra que abusava de seus filhos”. Mais especificamente foi o “abusava de seus filhos”. Alguns jornais, depois de Rohter ter dito que seu artigo fora mal traduzido, mudaram o “abusava” para “maltratava”. Fato é que o jornalista usou no original o verbo “to abuse” , que em português é abusar, que vem do latim “abutor”, verbo que ficou eternizado na famosa frase de Cícero contra Catilina “quosque tandem abutere, Catilina patientia nostra” (até quando Catilina, abusarás de nossa paciência). Isso nos faz concluir que o presidente desconhece o sentido lato da palavra abusar. Começa significando fazer mau uso e termina por enfastiar-se, passando por menosprezo, humilhação e ultraje ao pudor.
Por não dar valor a livros, ao invés de consultar um dicionário para saber o amplo significado da palavra e por preguiça “desgramada” não saber semântica, conseguiu com uma interpretação restrita, causar uma crise que desgastou internacionalmente o Brasil.


FOLHA
"A última vez em que bebi foi em 1974"

Lula diz não ter ficado "bêbado" desde a derrota para a Holanda naquela Copa

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Lula disse ter ficado "muito puto" com a reportagem de Larry Rohter, então correspondente do "New York Times", de que abusaria da bebida, porque era "mentira". Na época, ele decidiu não renovar o visto de Rohter (depois recuou). Diz duvidar que um jornalista ou político o tenha visto bêbado: "A última vez em que bebi mesmo foi quando o Brasil perdeu para a Holanda de 2 a 0 na Copa do Mundo de 1974".
Lula revelou que se sente "isolado" em Brasília, dorme cinco horas por noite, acorda cedo e caminha todo dia. Admite que fala palavrões ao cobrar ministros: "Tenho um jeito que não vou mudar. (...) Um palavrão quando soa como força de expressão ele é bonito". (KA)

FOLHA - O que faz no tempo livre?
LULA
- Não tenho tempo livre.

FOLHA - No final de semana.
LULA
- Aí é que me sinto isolado. Quando posso, passo com meus filhos. Eles não querem vir para Brasília. Cada um tem a vida dele, tem a sua namorada.
Não posso convidar um ministro porque tenho 30 [são 37] e vou criar ciúme nos outros. Dos meus domingos, 90% estamos eu e Marisa sozinhos. Aqui em Brasília nunca fui a um jantar, a um aniversário, a um restaurante. Minha vida é Palácio do Planalto e Palácio da Alvorada.

FOLHA - Foi ao Rosenthal [restaurante bom e barato de um cozinheiro de JK que morreu em 2005].
LULA
- Fui uma vez ao Rosenthal em quatro anos e meio. Não vou porque não quero atrapalhar as pessoas. O presidente leva um monte de gente, segurança, para ir a um lugar.

FOLHA - Não foge, não sai sozinho?
LULA
- Não. Sei de histórias de presidente que fugia e não fujo.

FOLHA - O que o sr. faz?
LULA
- Eu e Marisa vemos filme, vemos TV, andamos, pescamos, conversamos.

FOLHA - O casamento está bom?
LULA
- Sempre esteve bom.

FOLHA - O sr. tira uma sesta todo dia? Coloca pijama como o JK?
LULA
- Não tenho tempo. Aquele tempo talvez fosse mais fácil para governar. Às vezes saio daqui tarde para almoçar, chego em casa às 15h -vou almoçar em casa todo dia. E tem dia que volto para cá muito nervoso porque o tempo que tenho de almoçar é menor do que quando eu trabalhava na fábrica em tempo corrido e tinha meia hora para almoçar. Quando tenho tempo de descansar 20 minutos, dar uma cochilada, é um alívio porque a gente ganha uma tarde nova.

FOLHA - O sr. acorda a que horas? Dorme quantas horas?
LULA
- Durmo quatro horas e meia, cinco horas por noite. Acordo todo dia entre 5h30 e 6h.

FOLHA - Não é pouco?
LULA
- É pouco.

FOLHA - Como está o peso?
LULA
- Estou com 84 kg. Tô fazendo regime para chegar a 80.

FOLHA - Faz ginástica?
LULA
- Ando todo dia. É essa ginástica que me deixa de bom humor todo dia. Não tenho motivo para não ter bom humor.

FOLHA - Não fica mal-humorado, xinga?
LULA
- Tenho um jeito que não vou mudar. Cobro dos meus companheiros ministros.

FOLHA - Não solta palavrões?
LULA
- Um palavrão quando soa como força de expressão ele é bonito. Ele é feio quando falado fora de hora. Eu sou assim.

FOLHA - O que o sr. vê na TV?
LULA
- Não gosto de nada que me deixe tenso na TV ou no cinema. Não me convide para ver um filme de terror ou de suspense. Quero me divertir. Quanto mais avacalhado for o programa, melhor para mim.
Gosto muito de documentário, que vejo na TV a cabo. Nesta semana, vi um documentário sensacional sobre plataforma de petróleo. Outro dia vi um documentário espetacular sobre borracha. Vejo muito filme. Ganhei uma coleção de filmes brasileiros. Ouço muita música. O mais recente é o DVD do Toquinho, que é excepcional.

FOLHA - O sr. tinha fama de não gostar de Brasília. O que acha agora depois de viver cinco anos nela?
LULA
- O pior é que não vivo em Brasília. Vivo no Palácio do Planalto e no Palácio da Alvorada. Vive em Brasília quem vai a restaurante, ao shopping, quem vai tomar um chope no bar.

FOLHA - O sr. disse que não vai estudar no exterior quando deixar o governo, mas o que planeja fazer? Tem medo da "depressão pós-poder"? Do que sentirá mais falta?
LULA
- Sou um homem vacinado. Sei ao longo da história da dificuldade de as pessoas viverem sem corte depois de passarem tanto tempo com corte. Por conta disso muita gente erra na política, cai em depressão. Muita gente não se dá conta de que acabou o mandato, acabou.
Tem de fazer outra coisa. Pretendo viver minha vidinha tranqüila. Pretendo voltar no sábado e domingo para o meu terreninho, lá em São Bernardo do Campo. Fazer o meu feijãozinho, meu coelhinho na panela de ferro, fumar um cigarrinho de corda, sentado perto do fogão de lenha. Obviamente vou continuar tendo atividade política. Mas nada de cargo nem como dirigente do PT.

FOLHA - O sr. sempre tomou cachaça, chope. Por que no episódio Larry Rohter o sr. reagiu tão duramente?
LULA
- Incomoda a mentira, a desfaçatez. Duvido que tenha um jornalista no Brasil que tenha me visto bêbado. Duvido que tenha um companheiro do PT que tenha me visto bêbado.
Duvido que tenha um militante do movimento sindical que tenha me visto bêbado. Digo para todo mundo ouvir. A última vez em que bebi mesmo foi quando o Brasil perdeu para a Holanda de 2 a 0 na Copa do Mundo de 1974. Foi a primeira vez em que vi TV a cores. A gente tinha fechado o sindicato para comemorar a vitória do Brasil. O Brasil perdeu, e a gente bebeu de tristeza. Tinha casado com a Marisa fazia um mês e cheguei em casa travado. Depois disso, não mais. Fiquei puto porque, como pode um cidadão que nunca conversou comigo, que nunca tomou um copo de cerveja comigo, que nunca tomou um copo d'água comigo, fazer uma matéria de que eu bebia. Isso me deixou muito puto.
Tem um companheiro no bar e está vendo eu tomar dois uísques, escreva que tomei dois uísques. Se as pessoas me perguntarem se bebo, falo. Bebo, gosto de tomar um uisquizinho.
Não gosto de cerveja. Não gosto muito de vinho. Eu estou falando sobre 32 anos. Duvido que alguém tenha me visto bêbado desde 1974. O episódio me deixou chateado. Uma matéria gratuita e que fazia parte da tentativa de pessoas que queriam construir uma imagem negativa do Lula. Aliás, passaram grande parte do primeiro mandato tentando fazer isso.

FOLHA - Após o Dualib dizer que o Corinthians ganhou com gol roubado, acha que o título de 2005 deveria ser dado ao Internacional?
LULA
- Aquele título a gente quase não comemora. Foi num ranha-ranha, quase perdeu todos os jogos para chegar ao título. Se você vai anular um título cada vez que rouba, tem de tirar da Argentina a Copa de 86... Bem, vou criar um problema internacional.

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