Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 03, 2007

Temeridade



EDITORIAL
O Globo
3/10/2007

Político hábil, Luiz Inácio Lula da Silva sabe falar aquilo que a platéia quer ouvir. Segunda-feira, na inauguração do Centro de Produção de Antígenos Virais, na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio, um auditório de funcionários públicos inspirou o presidente : "(....) passam para a sociedade uma idéia de que é possível fazer um choque de gestão diminuindo o número de pessoas que trabalham. (...) na verdade, o choque de gestão será feito quando a gente contratar mais gente, mais qualificada, mais bem remunerada. (...) É preciso acabar com a mania de achar que contratar gente para trabalhar para o Estado brasileiro é inchaço de máquina."

A desabrida defesa de um Estado obeso, repleto de servidores estáveis e infensos a cobranças profissionais - mesmo quando qualificados e bem remunerados - seria mais um discurso para atrair aplauso fácil se não retratasse com perfeição o que o governo Lula executa com preocupante disciplina, principalmente a partir de 2005.

Ali, com a perspectiva de uma campanha eleitoral, aceleraram-se as contratações de servidores, incluindo um pacote de generosos reajustes salariais, distribuídos, não por coincidência, às vésperas das urnas. Consolidavam-se, daquela forma, os fortes laços que sempre uniram corporações sindicais do funcionalismo e o PT, abalados na primeira fase do governo por causa da reforma da previdência dos servidores.

A visão que está por trás da defesa do Estado-patrão e pai-dos-pobres é que impulsiona os gastos primários - excluindo, portanto, a conta financeira. Essas despesas têm crescido sempre mais que a economia e a geração de renda. Para financiar a farra fiscal, a carga tributária - que não é pequena - não pára de se tornar cada vez mais pesada para os contribuintes.

De 2003 para cá, o governo Lula já abriu 94,7 mil vagas na máquina pública, e se projetam outras 28,7 mil para 2008. Não se incluem aqui os chamados cargos comissionados, ditos de confiança, inflados de 19 mil em 2002 para 22.345 em junho passado. O número expressa a volúpia no aparelhamento do Estado. Aí estão os companheiros, a militância, apaniguados em geral. Todos nomeados sem concurso, por serem de "confiança".

Não há mesmo, portanto, como reduzir a carga tributária, que sufoca o contribuinte, desestimula investimentos e impede uma expansão maior da poupança. O governo Lula surfa a onda da aceleração do crescimento interno, ajudado por um quadro externo auspicioso. Mas a gastança com pessoal, assistencialismo e previdência compromete o futuro.

Arquivo do blog