Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 16, 2007

Privatização à petista


Artigo - Plácido Fernandes
Correio Braziliense
16/10/2007

O debate da vez voltou a ser a privatização. Petistas sempre acusaram tucanos de vender o patrimônio nacional a preço de banana. Agora, acabam de entregar, de graça, sete trechos de rodovias federais. A Gol, que arrematou um lote, e empresários espanhóis que levaram seis ganharam o direito de administrar as estradas em troca da cobrança do menor pedágio. O leilão foi celebrado como um ótimo negócio, porque quem trafega por essas vias pagará um preço quase simbólico quando comparado com a exorbitância exigida nas pistas privatizadas pelos tucanos.

A privatização, aposto, fará um bem danado a essas estradas. Mas não acho justo que paguemos triplamente por isso. Como sempre acontece, os vencedores do leilão receberão ajuda do BNDES para deixar as pistas em boas condições de tráfego. O dinheiro que o banco estatal vai emprestar tem origem no seu bolso: vem dos impostos, do FAT e do FGTS. Em seguida, prepare a carteira outra vez, porque a cada 70km você vai desembolsar pedágio para poder trafegar nessas vias. O pior é que hoje, além dos tributos, a gente já paga taxa específica para que o governo cuide bem das BRs. Vocês se lembram da Cide?

Para quem não se lembra, a Cide é uma contribuição compulsória que arrancam da sua conta sempre que você abastece o carro. Em tese, esses recursos deveriam ser investidos na melhoria das estradas. Estariam um brinco, se assim fosse. Em debate na TV, antes mesmo de Lula conquistar o primeiro mandato, Garotinho fez o petista passar vexame ao lhe perguntar sobre a Cide. À época, ficou claro, o petista nem sabia que a taxação existia. Isso foi antes de ele conquistar o primeiro mandato. Hoje, Lula sabe muito bem o que é. Mas nem por isso as rodovias brasileiras saíram do buraco. Exceção feita a alguns trechos em recuperação país afora, as BRs continuam a ser uma das maiores desgraças brasileiras.

Por que não são bem cuidadas quando estão nas mãos do governo? A resposta, vocês sabem: se o Brasil conseguisse impedir pelo menos 50% da roubalheira dos cofres públicos, as estradas, as escolas e os hospitais estariam bem melhores. Em 2004, estudo feito pela Antonino Marmo Trevisan, uma das maiores empresas de auditoria e consultoria do país, estimou que cerca de 25% do Orçamento da União acabam comprometidos pela corrupção. O Orçamento para 2008 é de R$ 1,4 trilhão — que sairão do bolso da gente, claro, em forma de impostos. Se os políticos larápios parassem de roubar no ano que vem, o país economizaria R$ 3,5 bilhões. Mas, com a PF proibida de indiciá-los, teme-se que, em vez de diminuir, a sangria ao erário aumente.

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