Oh, o lampião de querosene!
Celso Ming
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Isso tem seu lado ruim, de aumentar o trânsito nas grandes cidades, mas comprova que a procura interna, irrigada a crédito farto, cresce como nunca.
Não dá para dizer que esse desempenho seja exceção no setor produtivo brasileiro. A Confederação Nacional da Indústria, embora um pouco atrasada com suas estatísticas, aponta que, nos oito primeiros meses do ano, a indústria vendeu 4,3% mais em termos reais (descontada a inflação) do que em 2006.
Ontem o presidente Lula anunciou que o uso da capacidade instalada da indústria em setembro chegou a 87%, o maior em 30 anos. Ou seja, já não há espaço para interrupção da produção para manutenção das máquinas. Sem investimentos, a indústria não conseguirá atender ao consumo interno, que avança mais de 6%. Não fossem as importações, faltaria mercadoria. E a inflação estaria em decolagem.
E não é só o mercado doméstico que responde. As exportações de manufaturados (até setembro) vêm crescendo 12,3% neste ano, número nada desprezível. Só não estão crescendo ainda mais porque o mercado interno não deixa excedente exportável.
Mas os dirigentes da Fiesp e os economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ligado à Fiesp, seguem recitando um mantra divorciado dos fatos. Reclamam que está em curso um rápido processo de desindustrialização e sucateamento do setor produtivo. Mais: garantem que isso tem a ver com o câmbio desastrado e os juros escorchantes.
Em meados de setembro, a Fundação Getúlio Vargas de São Paulo realizou seu 4º Fórum de Estudos para tentar demonstrar que o setor produtivo vai para o colapso porque pegou a doença holandesa - a maciça exportação de commodities que estaria produzindo a valorização do real.
Se esse câmbio é adverso, ele nunca esteve tão adverso como agora. Sexta-feira as cotações do dólar foram as mais baixas desde agosto de 2000. E os juros básicos (Selic) também são os mais baixos dos últimos dez anos.
E, no entanto, a indústria está bombando, o emprego industrial vai crescendo 3,6% e a massa salarial, 7,6%. Isso mostra que nem o câmbio nem os juros têm prejudicado o setor. Vai ficando difícil provar a tal desindustrialização.
Não dá para negar que o mundo esteja passando por mudanças não só nos padrões de consumo, como também nos de produção. Nessas ocasiões, não há o que segure o processo de destruição criativa, apontado por Joseph Schumpeter em 1942.
Foram-se os tempos áureos do espartilho, do anil, do lampião de querosene, do chapéu de feltro, da brilhantina Glostora, da lata de folha de flandres (glória das Indústrias Matarazzo), da máquina de escrever e dos calçados sem marca e sem marketing.
Para os fabricantes desses produtos houve (e continua), sim, desindustrialização.