depois da Copa
Os brasileiros vibraram com a seleção feminina
de futebol na Copa do Mundo. A questão é se esse
esporte pode um dia se tornar popular no país
Paula Neiva
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O show de belos lances que há duas semanas levou a seleção feminina de futebol à conquista do vice-campeonato mundial, na China, provocou uma onda de interesse da torcida brasileira por essa modalidade esportiva. O time de Marta e Pretinha fez o país relembrar os tempos do futebol-arte de Pelé e Garrincha, em que os dribles se sobrepunham à força física. Assim como ocorreu nas Olimpíadas de 2004, é provável que o sucesso das meninas da seleção se dissipe em pouco tempo. O futebol feminino, ao contrário do que ocorre com o masculino, nunca despertou a paixão dos brasileiros. Mesmo entre atletas, a diferença de desempenho entre homens e mulheres no futebol é grande (veja o quadro). A questão que surge é: será que um dia o futebol das mulheres se tornará um esporte popular no país? Em primeiro lugar, para que isso aconteça, é preciso que ele se transforme num bom negócio. O futebol masculino tem como principais fontes de renda, pela ordem, a transmissão de jogos pela TV, a venda de jogadores entre os clubes e os patrocínios e publicidade. A montanha de dinheiro investida nessas três frentes, evidentemente, pressupõe que o futebol provoque o interesse de milhões de torcedores, o que não é o caso em sua modalidade feminina.
Um começo viável para promover o futebol feminino, segundo especialistas, seria formar times patrocinados por empresas e batizados com seus nomes, como no vôlei. "Não existe ainda um modelo de negócios para o futebol feminino", diz Amir Somoggi, consultor de gestão de entidades esportivas. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) diz que fará sua parte e anuncia para breve o primeiro campeonato nacional de futebol feminino.
O futebol de mulheres no Brasil já nasceu com o pé esquerdo. No começo da década de 40, o Estado Novo promulgou um decreto-lei que proibia a "prática de esportes incompatíveis com a natureza feminina". O alvo do decreto eram os primeiros times de futebol formados por mulheres, que despertavam a indignação das famílias conservadoras. A proibição se tornou ainda mais rígida durante a ditadura militar. Em 1965, o Conselho Nacional de Desportos proibiu expressamente às mulheres, nos clubes, a prática de todos os tipos de futebol – e também de pólo, rúgbi e halterofilismo. Hoje, o futebol feminino é um esporte popular em países como a Alemanha, a Suécia e a China. No Brasil, a torcida é para que Marta e sua turma brilhem o ano inteiro, e não apenas nos torneios internacionais.
Fotos Frederick Brown/AFP e John Gress/Reuters |