BLOG NOBLAT
17.10.2007
| 16h10m
Perder eleição vicia
Vai ficando óbvio porque o presidente Lula antecipou em três anos e meio a própria sucessão, prazo recorde, que equivale a não governar, a cuidar exclusivamente da enorme fofocalhada que precede a supereleição de 2010, num país onde já se vota ano sim, ano não.
Mas, como quem governa são os outros, Lula, na verdade, achou um brinquedo, além das viagens internacionais e dos programas de auditório em que transforma as solenidades das quais participa.
O problema é que a arrogância do presidente não previu que, ao forçar a barra, o resultado seria mostrar muito mais as fotos do que acontece no playground do adversário PSDB.
A origem de tudo está no fato de que o PT não tem candidato, sempre teve só Lula, e os tucanos têm excesso deles. A tática escolhida por Lula, então, é ir embaralhando as cartas.
Uma hora mostra Dilma, outra guarda Marta, mais adiante puxa um Tarso Genro, esconde na manga um Ciro e por aí vai. Algum dia terminará dando certo, pois não há nada que Lula faça que dê espetacularmente errado. Até a hora em que comece a fazer água, e sempre começa.
Mesmo sem candidato, sem jogo, sem assunto, Lula acaba irritando os adversários, especialistas em dar tiro no pé. Por exemplo: Serra ou Aécio?
Serra está na frente, é mais conhecido, preparou-se para isso a vida inteira. Enfrenta algumas antipatias e resistências de quem teme que ele seja o verdadeiro Lula. Ou seja, o sujeito que vai mudar a economia e o social. Nada, insuperável, porém.
Aécio fará mais um bom governo em Minas, tem um talento extraordinário para escolher assessores e herdou do avô a habilidade para a conversa elevada ao cubo. Mas vão dizer que em política tem fila, a vez é do Serra, Aécio é muito novo, essas coisas.
Em vez de transformar isso numa óbvia chapa Serra-Aécio, com a qual sonham algumas cabeças do partido, o mais provável é que eles transformem a vantagem numa enorme briga por um quebra-cabeças que não encaixa nunca. E tome bolsa-esmola, dólar baixo, "nunca neste país" e um poste de candidato.
Como diz Arthur Virgílio, "perder eleição vicia. O problema é que perder eleição é igual sapato branco. É bonito nos outros".