Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 20, 2007

A influência de Lula na sucessão

Carona na popular

Lula pode ser um cabo eleitoral decisivo nas próximas
eleições. Mas ele consegue transferir votos?


Diego Escosteguy

Ricardo Stuckert/PR
Lula desfila nas ruas de Brazzaville, capital do Congo: os eleitores fiéis ao presidente podem decidir as eleições de 2010

As primeiras sondagens sobre as eleições presidenciais de 2010 mostram que, se nada de extraordinário ocorrer até lá, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exercerá um papel importante na própria sucessão. Personagem principal das últimas cinco eleições, ele não estará entre os candidatos. Em entrevistas recentes, Lula disse que pretende se empenhar na campanha de seu sucessor usando, para isso, um capital hoje muito expressivo: sua popularidade. Uma pesquisa divulgada na semana passada pelo instituto Sensus mostra que o presidente é um cabo eleitoral poderoso. Somente 27% dos entrevistados disseram que não votariam em um candidato apoiado por Lula. O restante admite a possibilidade de seguir a orientação do presidente. Isso, porém, não quer dizer que o escolhido por Lula possa começar a pensar na faixa presidencial. De acordo com a pesquisa, 10% votariam cegamente no sucessor indicado por Lula, independentemente de quem seja, 25% admitem a possibilidade e 32% tomariam a decisão apenas depois de conhecer o candidato. Ou seja: o fato de o presidente ser popular não significa necessariamente que ele consiga – ou queira – transferir esse patrimônio para um aliado. Essa será a principal incógnita dos próximos três anos.

"A transferência de votos não será fácil. O eleitor de Lula identifica-se com ele, com a sua trajetória sofrida e com a origem pobre do presidente. Não há um candidato com perfil semelhante", explica o diretor do Datafolha, Mauro Paulino. A pesquisa colheu indícios que revelam a dificuldade que o presidente terá para tentar fazer o sucessor. Quando se perguntou para quem seria o voto se as eleições fossem hoje, os potenciais candidatos mais ligados a Lula tiveram um desempenho pífio. Os três mais bem posicionados, aliás, foram os tucanos José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves – adversários do presidente. Logo depois apareceu Ciro Gomes, o mais bem colocado da base governista. Possíveis pré-candidatos do PT, como o governador Jaques Wagner e o ministro Tarso Genro, quase registram traço. A pesquisa é inequívoca. Dela, depreende-se que há três fortes pré-candidatos da oposição e, com certo otimismo, um do governo – no caso, Ciro Gomes. O dado animador para os governistas é que o número de eleitores que se declaram fiéis a Lula e dizem que votam em quem ele indicar é o dobro do que normalmente registram os governantes mais bem avaliados. "É um porcentual extraordinário", afirma Ricardo Guedes, diretor do Sensus. "Normalmente, um governante bem avaliado não atinge mais do que 5% nesse quesito."

Os candidatos governistas podem se animar ainda mais com outro índice detectado pela pesquisa – o que mostra que um quarto dos entrevistados admite seguir a orientação presidencial. Esse quesito sugere que o presidente tem um enorme potencial de transferência de votos caso sua popularidade se mantenha nesse patamar – o que pode se constituir no fator decisivo numa campanha concorrida, como pode ser a de 2010. O problema, dessa forma, ficaria restrito ao herdeiro. Não é bem assim. VEJA conversou com um influente assessor presidencial, que tem participado das discussões sobre o perfil do melhor candidato oficial para disputar as eleições. Segundo ele, ainda é muito cedo para pensar em transferência de votos. Até porque o presidente tem dado sinais de que pretende voltar a disputar a eleição presidencial. Antes de embarcar para uma viagem à África, na semana passada, Lula deu uma entrevista à Folha de S.Paulo em que deixou clara essa disposição. Quando o jornal lhe perguntou se descartaria a possibilidade de voltar candidato em 2014, Lula disse que não. "Por isso é importante observar até que ponto Lula estará disposto a ajudar o candidato do governo. Essa disposição é que vai definir as chances do escolhido", diz o assessor presidencial. Imaginar que o presidente queira trabalhar contra um candidato oficial pode parecer extravagante, mas não seria inédito. Em 2002, os esforços do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para eleger José Serra ficaram, na análise de altos tucanos, aquém do desejado.

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