Debora Thomé
Num debate no Rio, na quinta-feira, alguém perguntou se ainda valia a pena investir na Bolívia. Um boliviano que trabalha no Brasil e estava no evento respondeu que acreditava que sim, afinal o país tinha o gás de que tanto o Chile quanto a Argentina dependiam. Nos últimos anos, com as efervescências no país, o investimento estrangeiro lá caiu de US$ 800 milhões para US$ 200 milhões. A Bolívia se encontra cada vez mais dividida, com sua Assembléia Constituinte sem conseguir avançar em mudanças fundamentais.
— Atualmente, 80% da exportação da Bolívia são minerais, soja e, principalmente, gás. Nada mudou desde os anos 30. O problema de continuar dependendo só disso é que não se cria desenvolvimento — comenta, de La Paz, o professor Gonzalo Chavez, da Universidade Católica Boliviana. Evo Morales, assim como fizeram Hugo Chávez, na Venezuela, ou Rafael Correa, no Equador, tinha como plano promulgar uma nova Constituição para, a partir dela, começar um processo de transformação na Bolívia.
Porém não está conseguindo maioria suficiente para fazer as mudanças que deseja.
A assembléia constituinte está dividida no país. Passou quase um ano discutindo o regulamento interno e, quando chegou, finalmente, a temas importantes, a discussão acabou empacando na questão da “capitalidade”.
A capital do país é Sucre; a sede de governo, La Paz. Agora, Sucre quer ser também a sede.
— O tema da “capitalidade” se politizou. A oposição de Santa Cruz está aproveitando este momento.
A Assembléia Constituinte está com muitos problemas, e o presidente Evo Morales tenta salvá-la, pois é o elemento que quer para poder mudar a Bolívia — comenta Gonzalo Chavez.
A Bolívia, diferentemente do que acontece com a Venezuela, é um país cindido.
Na Venezuela, todo poder está concentrado em Caracas.
Já na Bolívia, a região mais rica é a de Santa Cruz, que faz oposição ferrenha a Morales, e a La Paz. Enquanto Santa Cruz é mais privatista; a outra região defende maior participação do Estado na economia.
O presidente boliviano vive hoje um problema grave de governo: não consegue nem mandar, nem negociar com a oposição. O professor Gonzalo Chavez conta que Morales quer diminuir a maioria necessária para votar a Constituição. Deixariam de ser necessários os 2/3, passando a ser apenas maioria simples, ou seja, 50% + 1. O presidente boliviano continua contando com uma boa popularidade, mas seus eleitores começam a cobrar rapidez nas medidas. A nacionalização do gás ajudou a manter o poder do presidente e, mais que isso, dobrou os recursos do governo.
— Mas hoje a Bolívia precisa de US$ 900 milhões de investimento por ano para garantir mais gás; e ela não tem esse dinheiro.
O nosso vizinho encontrase num impasse. Não apenas no tocante à séria disputa política, mas também por falta de investimentos.
Sorte dele ter o gás.
Isso faz toda diferença.
Por falar em América Latina I
Se não for considerado o México, a Ásia já é hoje o principal destino das exportações dos países latinoamericanos.
Os Estados Unidos ficaram, portanto, com a segunda posição, seguidos da Europa. É isso que informa o último boletim de notas da Cepal.
O problema é que a América Latina continua sendo exportadora, para esses países, de matérias-primas ou de produtos feitos a partir delas.
Assim, a Cepal recomenda que se tente aumentar o comércio intra-industrial entre Ásia e América Latina. Seria replicar, com a Ásia, um modelo já bem-sucedido feito hoje, por exemplo, com os automóveis entre México e Brasil. As trocas intercompany têm se mostrado bastante frutíferas. E uma vantagem nós temos: a proximidade com o mercado norte-americano.
Por falar em América Latina II
No mesmo informativo, o secretário-executivo da Cepal, José Luis Machinea, defendeu que a região invista mais em formação para melhorar sua participação no comércio mundial de serviços.
As trocas de tecnologia têm feito com que esse comércio cresça mais que o de bens nos últimos anos. A região, porém, tem ficado para trás. Nos últimos 20 anos, a participação latino-americana nos serviços caiu de 2,1% para 1,8%. Como mostra o gráfico, as exportações cresceram bem mais em outras partes do mundo.
Machinea lista algumas vantagens da América Latina: “Um contingente crescente de mão-de-obra qualificada com salários relativamente competitivos, uma infra-estrutura tecnológica de qualidade razoável.” O problema é que, por enquanto, até mesmo dentro da região, é pequeno o comércio de serviço.
Entrevista:O Estado inteligente
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