Editorial |
O Estado de S. Paulo |
5/10/2007 |
Já dissemos aqui, muitas vezes, que desde que deixou o Congresso, em 1989, o ex-líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva em nenhum momento desceu do palanque. Dele não arredou pé depois de eleito em 2002. Desde o dia 1º de janeiro de 2003 até 29 de outubro de 2006 não deixou de cuidar prioritariamente de sua reeleição, inclusive durante suas numerosas viagens pelo mundo que, afinal, graças à extraordinária verve com que explora a natural simpatia que desperta a sua história de sucesso pessoal, lhe renderam, todas, polpudos dividendos eleitorais. Lula e seus interlocutores seguramente operam a partir de duas premissas: a se manter a atual conjuntura, sobretudo o extraordinário patamar de popularidade do presidente, ele poderá até não fazer o sucessor - porque há limites para a transferência automática de votos de um não candidato, por popular que seja -, mas, evidentemente, não é para ser levada a sério a hipótese de que, entre os seus, uma candidatura única se imponha contra a sua vontade. Dito de outro modo, pode-se desde já contemplar um cenário de sucessão presidencial - mantidas, repita-se, as atuais condições de temperatura e pressão na política e na economia - em que Lula desempenhará não apenas o papel de Grande Eleitor, ou mesmo Único Eleitor, mas o de detentor de incontrastável poder de veto. Esse duplo papel é o que ele começa a construir com tamanha antecedência, às expensas do tedioso trabalho de governar. Lula precisa - e sabe que precisa - que não haja defecções dignas de nota em face das únicas duas votações de interesse prioritário do governo: a da prorrogação da CPMF que paga o seu Bolsa-Família e a da Desvinculação dos Recursos da União (DRU), que dá ao Executivo a prerrogativa de gastar a seu bel-prazer 20% do Orçamento. A unidade da base nesse percurso representará, nos cálculos de Lula, meio caminho andado para levar adiante a almejada candidatura de consenso da coalizão. O pontiagudo obstáculo nessa jornada, evidentemente, são as ambições conflitantes dos sócios majoritários deste segundo mandato: PT e PMDB. O pragmático presidente já disse de público que o sucessor ideal não tem por que, necessariamente, pertencer ao PT. O que não o impedirá de fomentar uma candidatura petista, se isso convier aos seus cálculos eleitorais e políticos. Em qualquer circunstância, ele terá de “combinar com os russos”. Aliás, são os russos que dizem que o melhor mata-moscas que existe é um prato com mel. Ou seja, Grande Eleitor ou não, Lula terá de adoçar a boca dos preteridos, petistas ou peemedebistas. No primeiro mandato foi mais fácil: bastava ele fazer desde o primeiro dia, religiosamente, o indispensável para se manter na crista da onda do apoio popular - ir de palanque em palanque pregando a boa nova do “nunca antes na história deste país”. Lula, em outras palavras, dependia acima de tudo de si próprio para chegar lá pela segunda vez, em que pesassem a incompetência administrativa da sua equipe, o mensalão e, já na reta final, os aloprados. Em 2010, para que chegue lá quem ele queira, Lula, o palanqueiro pai dos pobres, terá de ceder a vez, antes da campanha eleitoral propriamente dita na qual prometeu se engajar, a outro personagem: o Lula domador de ambições que prometem vir em pencas, usando, para tal, antes o afago do que o chicote. Isso, depois de deixar, em termos, que as “forças do mercado” no âmbito da sua coalizão se entendam nas disputas municipais do próximo ano, nas quais ele também promete trabalhar por candidatos do governo, mas somente no segundo turno. Para a imensa maioria dos brasileiros alheios a esse minueto, importa o que tanto aborrece o presidente: administrar a coisa pública. Mas, nisso o presidente não se aventura. Ele faz o que sabe fazer. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, outubro 05, 2007
Ele faz o que sabe fazer
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