O Estado de S. Paulo |
16/10/2007 |
Ontem, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, se antecipou ao anúncio oficial e festejou as negociações para a criação de um fundo da ordem de US$ 80 bilhões a US$ 100 bilhões, coordenado por grandes bancos. Esses recursos serão usados para recomprar títulos micados que davam cobertura para hipotecas de alto risco (subprime) nos Estados Unidos, o problemão da última turbulência dos mercados. Os pormenores dessa operação ainda não são conhecidos e algumas das mais importantes decisões ainda estão para ser tomadas. Mas, do que já se sabe, dá para concluir que a iniciativa tem enorme significado e anuncia importantes conseqüências econômicas e políticas. A modelagem do plano prevê a recompra dos títulos sem liquidez e sua revenda ao mercado sob nova embalagem, por meio de lançamento dos chamados commercial papers. Esse resgate lembra o que aconteceu em 1998 quando alguns bancos foram convocados para providenciar o resgate (e fechamento) do Long Term Capital Management (LTCM), um fundo que se deu mal nas suas apostas em contratos de juros futuros quando a moratória da Rússia provocou uma reviravolta no jogo financeiro mundial. A diferença é que o LTCM exigiu um aporte de apenas US$ 4 bilhões. Estão diretamente envolvidos no projeto três dos maiores bancos do mundo: Citigroup, Bank of America e JP Morgan. Isso mostra que a atitude anterior dos bancos, de ficar de fora do negócio das hipotecas de risco (desintermediação financeira), não os livrou das responsabilidades que se seguiram ao colapso desse segmento do mercado. Esses bancos tiveram seus negócios fortemente atingidos pela crise na medida em que se envolveram com a venda de produtos financeiros de segurança duvidosa. Ontem, por exemplo, o Citigroup anunciou queda dos lucros de nada menos que 57% no terceiro trimestre do ano, em conseqüência das perdas infligidas pela crise. A operação está sendo induzida pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Isso mostra coisas notáveis. Mostra, em primeiro lugar, que o governo americano está diretamente empenhado em obter uma solução para a crise, aparentemente para neutralizar o estrago provável nas eleições presidenciais do ano que vem, depois que milhões de mutuários se vissem incapazes de pagar as prestações de financiamentos imobiliários. Mostra também que, embora esta seja uma típica solução “de mercado” conduzida por bancos privados, precisa de respaldo do governo americano de maneira a lhe dar credibilidade. E mostra que um espaço de supervisão e coordenação bancária, que normalmente caberia ao Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), está sendo ocupado diretamente pelo governo Bush, por meio do Departamento do Tesouro. Seria essa mais uma demonstração de fragilidade relativa dos bancos centrais dos países ricos? Boa pergunta consiste em saber se o tamanho desse cobertor de US$ 80 bilhões a US$ 100 bilhões será suficiente para acabar com a crise. A encrenca global com os subprime está avaliada como sendo pelo menos quatro vezes maior. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, outubro 16, 2007
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