Quem está de fora imagina que esses sisudos senhores fiquem a todo tempo trocando impressões, metendo-se em conchavos, e que a decisão final seja só uma formalidade. Ledo engano. Uma regra interna proíbe a troca de figurinhas sobre o tema. No primeiro dia de reunião do Copom (sempre uma terça-feira), tomam conhecimento dos dados disponíveis, das análises, projeções, simulações e tal. E, na quarta, batem o martelo.
Os juros básicos (Selic) são um dos dois preços mais importantes do dinheiro. O outro é o câmbio. O Banco Central aumenta ou diminui o volume de dinheiro na economia por meio da compra ou venda de títulos no mercado aberto. Se os juros tendem a ficar mais altos do que os fixados na reunião anterior do Copom, o Banco Central compra títulos, com isso, injeta dinheiro e o preço do dinheiro, agora mais farto, diminui até o nível desejado. Se os juros tendem a baixar, o esforço é na direção contrária.
Como é sabido, política monetária apertada segura o crédito, o consumo e a inflação. Quando é afrouxada, aumenta o consumo e as encomendas à produção.
Os juros básicos no Brasil vêm caindo sem parar, pouco mais ou pouco menos, desde setembro de 2005. Desta vez, é boa a probabilidade de que o Banco Central decida dar uma parada no nível dos juros, para ver o que acontece.
Ele só tem de cuidar de que a inflação fique dentro da meta, que neste ano e no próximo é de 4,5%. Este ano são favas contadas, porque uma alteração no volume de dinheiro (e dos juros) leva cerca de seis meses para atuar sobre os preços. Enfim, o Copom está de olho agora na calibragem da inflação do ano que vem.
O Banco Central é naturalmente conservador (outros preferem dizer "chato"), como a frase ao lado está dando a entender. E não gosta nem um pouco de afrouxar os juros para, logo em seguida, ter de voltar atrás. Prefere repetir doses pequenas a servir uma só, grande demais.
Para a reunião desta quarta-feira, dá para dizer que a turbulência externa passou e já não puxa o dólar para cima, o que contribuiria para aumentar a inflação. Ao contrário, a baixa do dólar trabalha a favor do controle da inflação porque derruba os preços dos importados. O maior produtor de inflação no Brasil tende agora a ser outro.
O Banco Central não esconde que teme os efeitos do aquecimento do consumo, que cresce perto dos 7% ao ano, portanto mais do que a produção (PIB), que deve ficar em torno dos 5%.
A inflação de setembro, medida pelo IPCA, mostrou inesperado recuo para 0,18%. Em agosto, havia dado uma forte esticada, de 0,47%. Os técnicos ainda se desdobram para identificar, tanto em agosto como em setembro, o que é alta episódica e o que é tendência firme.
Não está claro se o Banco Central identificou a natureza do movimento. Ele só voltará a baixar os juros (e, ainda assim, em não mais que 0,25 ponto porcentual) se tiver certeza de que o ritmo do IPCA de setembro prevalecerá sobre o de agosto.