Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 20, 2007

Celso Ming Estes fundos metem medo (1)

O governo Lula já decidiu que o Brasil vai ter seu próprio fundo soberano.

Este é tema explosivo na geopolítica das finanças porque as grandes potências temem o uso que países emergentes vão dando para esse dinheiro.Vêem segredos militares caindo em mãos suspeitas, conforme os fundos adquiram posições acionárias (e de decisão) em empresas estratégicas.

Saíram dois documentos sobre o assunto. Um foi elaborado por Gerard Lyons, economista-chefe do Standard Chartered Bank, de Londres (State capitalism; the rise of sovereign wealth funds) e o outro é de Alexis Patelis, chefe da área de Economia Internacional da Merrill Lynch, de Nova York (The overflowing bathtub, the running tap and SWFs).

Entende-se a inquietação dos senhores do mundo. Os fundos soberanos de riqueza (Sovereign Wealth Funds - SWF) estão crescendo a um ritmo espantoso: US$ 1,2 trilhão por ano. Segundo a Merril Lynch, em quatro anos terão amontoado US$ 7,9 trilhões. O Fundo Monetário Internacional estima US$ 12 trilhões em 2012. O Standard Chartered calcula que, "em dez anos, deverão atingir US$ 13,4 trilhões".

Mesmo que não recebam novos aportes de capital, só com um retorno modesto de suas atuais aplicações o valor desses fundos poderá chegar a US$ 5,2 trilhões em dez anos, observa o Standard Chartered. (Para comparar, o atual PIB dos Estados Unidos é de US$ 13 trilhões e o volume de ativos financeiros no mundo, conforme a Consultoria McKinsey, é de US$ 167 trilhões.) Na tabela vai o patrimônio dos 20 maiores.

O tamanho e seu potencial de crescimento não são o mais importante. A maioria desses fundos é secreta e isso já diz muito. China, Catar, Brunei, Venezuela, Taiwan, Oman e Kuwait têm fundos soberanos "não transparentes". Só o enunciado desses países indica por que o Pentágono está preocupado.

Esses fundos provieram de saldos comerciais. O produtor de petróleo, por exemplo, exporta mais do que importa e precisa aplicar a sobra de dinheiro. Até recentemente, as reservas externas eram formadas quase só por títulos de dívida de países ricos. Quando, há alguns anos, os emergentes passaram a amontoar reservas, foi tanta a procura por esses títulos que os juros de longo prazo caíram e tornaram as reservas pouco rentáveis. Foi o que levou grandes detentores de reservas a buscar aplicações mais atraentes. Isso multiplicou os fundos soberanos e o poder de suas carteiras. São vistos agora como arma.

O FMI e o Banco Mundial estão sendo convocados para estudar códigos de conduta a serem impostos a esses administradores de interesses de Estado. Sexta-feira, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, pediu-lhes "mais transparência". Apelos assim mostram que os países ricos não sabem como enfrentar o que pensam ser novo problema de segurança econômica global.

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