Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 03, 2007

Celso Ming - Bombeiro ocasional



O Estado de S. Paulo
3/10/2007

Para que serve, afinal, a política monetária ou política de juros? As últimas intervenções dos grandes bancos centrais sugerem que existem duas políticas monetárias: uma para tempos normais e outra para tempos de crise.

Onde o sistema é de metas de inflação, como no Brasil, o banco central deve usar sua guitarra unicamente para enfiar a inflação para dentro da meta. Quando a inflação aparece, o banco central puxa pelos juros. Menos dinheiro na economia e crédito mais caro tendem a cortar o consumo e, em seguida, a produção. Cerca de seis meses depois, a inflação tende a recuar. Nesse sistema, nem o crescimento econômico (e o emprego) nem a política cambial estão entre os objetivos diretos do banco central.

Alguns países confiaram um duplo mandato para seu banco central. Deve usar os juros tanto para combater a inflação como para garantir o emprego, o que, na prática, equivale a garantir o crescimento econômico. A lei americana impõe isso ao Federal Reserve (Fed). Um bom número de críticos da política monetária do governo Lula vem pressionando para que o Banco Central do Brasil quebre sua obsessão antiinflacionária e use sua política de juros também para incentivar o crescimento econômico.

No entanto, muitos especialistas consideram pouco eficaz esse mecanismo de objetivo duplo.

O atual presidente do Fed, Ben Bernanke, é francamente favorável à adoção do sistema formal de metas de inflação. Entende que é o sistema que confere mais transparência e, nessas condições, consegue fazer melhor a cabeça das pessoas. Na medida em que sabem para onde vai o barco, os formadores de preços conseguem prever o que vai acontecer e colaboram melhor para que a meta seja atingida.

A virulência da crise das hipotecas parece ter levado Bernanke a trabalhar contra suas convicções. E isso em dois sentidos. Além de favorável à adoção do sistema de metas, é contra políticas que, em última análise, favoreçam a especulação e práticas de risco irresponsável. No entanto, ao dar a pancada de meio ponto porcentual nos juros básicos, no dia 18 de setembro, Bernanke agiu na contramão do que vinha pregando até então.

Pode-se argumentar que não fez outra coisa senão seguir o regulamento: baixou os juros para evitar a recessão, que, naquele momento (e possivelmente ainda agora), foi entendida como ameaça maior. Na prática, Bernanke não passou de bombeiro. Usou a política monetária para apagar o incêndio, mais ou menos como fez o presidente anterior, Alan Greenspan, por ocasião do estouro de outras bolhas.

O problema é que, embora aparentemente eficaz para apagar a crise, a ação do Fed está provocando grave efeito colateral: minou a confiança no dólar em uma de suas principais funções, que é servir de moeda de reserva internacional. De lá para cá, o valor da moeda americana não pára de cair, não só em relação às outras moedas fortes, mas também em relação ao ouro, às commodities e às ações. A única maneira de resgatar o dólar em franca imersão é puxar pelos juros.

Mas, afinal, para que serve mesmo a política monetária?

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