Depois de muita trapalhada, finalmente
começaram os Jogos Pan-Americanos no Rio
Ronaldo Soares
Jamil Bittar/Reuters |
Cerimônia de abertura: show pirotécnico e vaia ao presidente Lula no Maracanã |
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Dois meses antes do início dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, os responsáveis pela organização viveram o momento mais tenso durante toda a preparação do evento. O terreno da Vila do Pan, onde os atletas ficam hospedados, cedeu e abriram-se crateras no solo. Parte da terra que se deslocou foi parar dentro da garagem de um dos prédios. Temeu-se que as crateras pudessem ter abalado as edificações, o que seria uma tragédia, pois não haveria como remanejar os competidores para outro local. Uma perícia constatou que não houve abalo nas estruturas das edificações. E o que chegou a parecer uma ameaça à realização dos Jogos entrou para o rol dos sobressaltos da conturbada preparação do evento, marcada por atrasos no cronograma, estouro no orçamento, obras sem licitação e, na reta final, por ameaças de greve de controladores de vôo e, até pior, da Polícia Civil. Na semana passada, turbulência também na área esportiva. Daiane dos Santos por pouco não abandonou o Pan, em virtude de um entorse no tornozelo direito. E a jogadora de vôlei Jaqueline acabou cortada: foi flagrada no exame antidoping por uso de um inibidor de apetite proibido no esporte.
Contratempos como esses são comuns em qualquer grande evento esportivo, assim como as falhas na organização. Na última edição do Pan, em Santo Domingo (2003), havia instalações esportivas em obras quando a competição começou. As acomodações para os atletas eram tão precárias que alguns deles resolveram ir para hotéis por conta própria. Nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, também houve atraso nas obras e estouro no orçamento. Mas, evidentemente, conseguir realizar a abertura é motivo de alívio geral. Na sexta-feira, finalmente o Rio pôde começar a apresentar ao público sua versão do maior evento esportivo do continente (veja quadro), realizado pela segunda vez no Brasil – a primeira foi em São Paulo, em 1963.
Nos preparativos da cerimônia, mais um imprevisto acabou entrando para a lista de problemas do Pan. No recém-reformado Maracanã, foi preciso derrubar trechos da mureta junto ao fosso que circunda o gramado. Na última hora, descobriu-se que os acessos ao gramado eram insuficientes para dar vazão ao volume de figurantes – cerca de 6.000 – escalados para participar da festa de abertura. Com isso, foram instaladas pontes de madeira nos acessos improvisados. Apesar do atraso e da constrangedora vaia ao presidente Lula, o colorido da cerimônia de abertura serviu para apagar a má impressão deixada pelo início oficial do Pan, ocorrido um dia antes. Numa partida em que havia mais voluntários do que torcedores no estádio, disputada na chuvosa manhã de quinta-feira, a seleção de futebol feminina da Argentina derrotou a do Panamá por 2 a 0. Futebol na chuva, sem torcida e com vitória da Argentina. Mais anticlímax, impossível.
Apesar das turbulências, o Pan do Rio teve o mérito de ter colocado os Jogos Pan-Americanos num patamar que até então o evento não atingira no cenário esportivo mundial. "Pela estrutura da Vila e das instalações esportivas, o Rio mudou totalmente o nível dos Jogos Pan-Americanos. O que teremos aqui é mais do que um Pan, é uma mini-Olimpíada", disse a VEJA o ginasta Diego Hypólito. Com as instalações prontas e aprovadas, o maior desafio ao longo da competição é fazer com que sua imensa engrenagem – são mais de 46.000 pessoas trabalhando, em 29 locais de provas – funcione como o planejado. Isso sem falar no desafio maior de garantir a segurança. O que estará em jogo no Pan é demonstrar que o Brasil tem condições de organizar um grande evento esportivo. Qualquer falha pode inviabilizar a candidatura do país a sediar a Copa de 2014 ou as Olimpíadas de 2016.