Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 14, 2007

Miriam Leitão Rio no compasso

O Rio de Janeiro está num momento mágico: a sensação de que tem chances de superar seus problemas. O Pan é efêmero, mas deixará infraestrutura, equipamentos de segurança. O Cristo Redentor continuará aqui de braços abertos sobre todos nós e um número maior de turistas. Além disso, há R$ 110 bilhões de investimentos previstos nos próximos cinco anos, e há planos inteligentes.

Empresários, governos e sociedade têm se dedicado a pensar saídas para a crise.Tem menos voluntarismo e mais estudo de casos de cidades e regiões que enfrentaram problemas semelhantes.

Nova York, Milão, Barcelona, Turim, Lisboa, Chicago; são tantas as regiões metropolitanas que enfrentaram e superaram seus processos de crise, violência e decadência, que não é possível que o Rio não seja capaz de fazer a mesma caminhada.

O economista André Urani, estudioso do Rio, acha que, como na música de Paulo Vanzolini, a recuperação do Rio passa por etapas inevitáveis. A primeira é reconhecer a queda.

— O Rio teve muitas perdas. Nem se dá conta de quantas e quão profundas. Normalmente, quando se mostra o tamanho da queda, a reação é chamar o diagnóstico de pessimista.

Ora é pessimista para quem é fraco e não tem forças para recomeçar — diz.

O PIB da cidade do Rio de Janeiro está como era na época da fusão. Mas PIB diz pouco, é apenas um número frio. A queda tem outros ingredientes mais dramáticos.

— O Rio tinha um baixo índice de desemprego, hoje a taxa é de 13%, um absurdo! O Brasil tem melhorias importantes na qualidade de vida nos últimos 15 anos; o Rio melhorou menos. Um número que preocupa: a taxa líquida de matrícula no ensino médio de 15 a 17 anos mostra que menos da metade dos jovens está matriculada no ensino médio na idade em que deveriam estar — conta Urani.

Reconhecer a queda, então, é o primeiro e doloroso passo. O segundo passo, ensina a música, é não desanimar.

O Rio vive um momento mágico. Há alguma coisa nova no ar, uma energia, que pode se desvanecer como os sonhos vazios ou servir de matéria-prima para a arrancada, principalmente quando o compasso é “Reconhece a queda, e não desanima”.

O secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio, Julio Bueno, tem uma idéia interessante sobre esse caminho para o terceiro passo: “Levanta, sacode a poeira.” — Nos próximos cinco anos, se for incluída Angra 3, o Rio terá R$ 110 bilhões em investimentos. Serão obras do governo federal e investimentos em algumas cadeias produtivas do petróleo, gasquímico, infra-estrutura, siderúrgicas e celulose.

São indústrias do século XX, e poucos empregos serão gerados, mas elas injetarão recursos para fazer nascer a economia do século XXI — disse-me o secretário durante o programa que fiz na Globonews sobre este assunto.

Nesta idéia de que indústrias do século XX alavancam o século XXI, Bueno já tem uma lista das vocações: tecnologia de informação, audiovisual, entretenimento, resseguros, serviços, economia do conhecimento.

O diagnóstico parece bom, mas tem dois problemas: o imposto sobre certos serviços no Rio, como telefonia, é maior que no resto do Brasil, e há um enorme esforço que tem que ser feito para educar a mão-de-obra para essa área, que exige mentes preparadas. Bueno tocou nestes dois pontos.

Hoje o Rio cresce mais que o Brasil, mas é um “samba de uma nota só”, segundo André. Só dá petróleo.

Tirando o petróleo, não tem mais nada. Por isso um dos estudos que estão sendo feitos com apoio do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), governo do estado e empresas privadas por André Urani é sobre “o Rio além do petróleo”.

— O petróleo pagou, em sete anos, R$ 26 bilhões em royalties e participação especial, e isso não virou investimento, foi consumido por uma máquina inchada e ineficiente — diz Bueno.

Por isso o secretário acha que recuperar a máquina é fundamental para dar outro grande passo: enfrentar a questão da segurança, sem o que nenhum ambiente para negócios vai prosperar, nenhuma recuperação de periferia ocorrerá, nenhum projeto de dar à juventude educação e emprego vai adiante.

André acredita que não basta o ajuste do estado. As experiências que ele estudou de recuperação de cidades tiveram presença forte das empresas. Todas as cidades tiveram a mesma história: foram formadas em torno de indústrias que, com a globalização, a mudança da estrutura produtiva, fugiram dos grandes centros. As periferias ficaram inchadas e viraram, segundo ele, “cemitérios industriais”.

Assim são as periferias do Rio, e assim eram as de várias metrópoles.

Elas inventaram seu futuro.

Um fato como uma competição esportiva pode ser o detonador da recuperação.

— Em Barcelona, as Olimpíadas foram fundamentais, mas houve também o plano Barcelona 1995-2025 que estruturou a mudança — lembra Urani.

Em Nova York, foram organizados esforços do setor privado através do New York Partnership for Development, que identificou as necessidades e o projeto.

Agora, essa iniciativa foi para cada bairro.

— O Brooklin Partnership for Development já agendou US$ 8 bilhões de investimento na região — conta Urani.

Bueno diz que há no Rio uma “inversão de expectativas”; Urani acredita que “estamos olhando para cima de novo”. Não se deve perder este momento, por mais dolorosa que seja a realidade depois da festa. É cantar para o Rio: “Reconhece a queda e não desanima.

Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.” Quer melhor motivo para sacudir a poeira do que uma festa esportiva?

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