O Globo |
12/7/2007 |
O papel de protagonista da ação política que o PSOL vem assumindo nos últimos episódios de denúncia de corrupção no Congresso, já analisado em coluna recente, está lhe trazendo, além de prestígio, problemas internos que são comuns a partidos de esquerda que, à semelhança do PT, de onde vieram seus fundadores, estão divididos em diversas tendências políticas que disputam entre si a hegemonia partidária. Ao mesmo tempo que prossegue na tarefa de assumir a luta contra a corrupção que já foi uma bandeira petista - após o recesso parlamentar, entrará com nova representação contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, pedindo que seja investigado se ele teria beneficiado a Schincariol depois que a cervejaria comprou uma fábrica do seu irmão, o também deputado Olavo Calheiros -, o PSOL vê-se às voltas com disputas de facções, que a maioria de seus membros já havia vivido no PT ou em siglas menores, como o PSTU. Na ótica dos radicais de esquerda, o PSOL não é um deles. Ao contrário, é um partido que compactua com os neoliberais, e sua luta contra a corrupção não passaria de demonstração de que defendem um moralismo burguês. Ironicamente, as críticas que vêm do PT são consideradas como "de direita" pelo PSOL. Ainda ressentidos com as diversas defecções políticas em direção ao PSOL, acusações anônimas petistas denunciam o caráter autoritário da atual direção da legenda, que estaria relegando a um papel secundário as facções políticas minoritárias que abriga. Terminado o I Congresso Nacional, para deleite dos petistas, o ex-deputado Babá entrou com um recurso junto à Direção Nacional, com Plinio de Arruda Sampaio e outros, contra a divisão de cargos pela nova maioria partidária, composta pelo Movimento de Esquerda Socialista (MES), de Luciana Genro; o Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL), considerado o MST do PSOL; a Ação Popular Socialista, de Ivan Valente e do ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues. Nessa nova maioria estão também a ex-senadora Heloisa Helena, presidente do partido, que agora estaria contra a sua ex-corrente (Enlace), Milton Temer, que preside a Fundação Lauro Campos, o deputado federal Chico Alencar e o senador sem voto José Nery, que era suplente da governadora eleita do Pará pelo PT, Ana Julia Carepa. O congresso do PSOL, ao aprovar a "proporcionalidade qualificada", sistema utilizado em alguns sindicatos, provocou protestos em facções que supostamente teriam ficado desprestigiadas na distribuição de cargos. Segundo os adversários, os que se juntaram em maioria no congresso querem impor uma conta para a composição do diretório nacional, onde a maioria fica com todos os cargos importantes, e a minoria ficaria em funções secundárias. Os petistas que denunciam o autoritarismo de seus dissidentes ressaltam que, no PT, isso nunca tinha acontecido com nenhum deles, pois o Campo Majoritário não tratava assim nem mesmo a raivosa Convergência Socialista. O deputado Chico Alencar, líder do PSOL na Câmara, admite que o problema existe, embora não gere uma "luta fratricida", como espalham seus adversários. Alencar diz que o problema existe "na aferição matemática da tal proporcionalidade qualificada". Segundo ele, no congresso estadual do Rio foi aprovada por unanimidade "uma interpretação que contempla todos os setores e que será levada como contribuição para o plano nacional". Ele diz também que foi oferecida à corrente de Babá a Secretaria de Movimentos Sociais, "que é bem mais que servir cafezinho nas reuniões", maneira como os descontentes classificaram os cargos oferecidos às correntes minoritárias do PSOL. "Querer elevar essa questão ao status de crise é coisa de quem está incomodado com o espaço que o PSOL está ocupando, vazio, aliás, deixado pelo PT, que abandonou seus antigos ideais", diz. O deputado Chico Alencar ressalta que recebeu mensagem de Leonardo Boff dizendo que "sem o sentido ético que o PSOL mantém vivo, não teríamos os atuais processos contra a corrupção dos senadores. Vocês estão sendo fiéis aos antigos ideais que fundaram o PT." O PSOL também está sendo muito criticado por pequenas agremiações ou grupos de ultra-esquerda, que, como o Partido da Causa Operária (PCO), denunciam que o I Congresso entregou a direção do partido "à direita burguesa", ou, como o PSTU, que acusa a nova direção de ser constituída por "frente com partidos burgueses". Um grupo que se auto-intitula "coletivo operário do ABC" também declara que não aposta mais no PSOL, onde ingressara criticamente, pois o partido "não é da classe trabalhadora" e, ao fazer campanha contra a corrupção e Renan Calheiros, revela acreditar "na ética burguesa". Chico Alencar destaca que "todos são unânimes em criticar nosso apoio aos processos políticos que se desenvolvem no Equador, Venezuela e Bolívia, que não são de ruptura com o imperialismo". Curiosamente, esses grupos consideram Correa, Chaves e Morales "moderados demais". Os membros do PSOL colocam as reações do PT à direita, e a dos grupos radicais, à esquerda, atribuindo a elas a mesma interpretação: incômodo com a afirmação do PSOL como legenda de ação política combativa. |
Entrevista:O Estado inteligente
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