Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 08, 2007

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Cadê o operário?

Os petistas, à falta de argumentos consistentes, batem sempre na mesma tecla: a Imprensa fascista não se conforma em ver um operário na Presidência da República. Qualquer crítica ao Lula, qualquer reportagem sobre a incapacidade administrativa de seu governo, lá vem o coro: “É que não se conformam em ter um operário na Presidência”.


Gostaria que me dissessem onde está o operário. Não há meio de eu encontrá-lo. Vejo na chefia da Nação um ex-sindicalista muito mal habituado, um ex-deputado que foi apagadissimo quando membro do Congresso, e um homem absolutamente despreparado para administrar seja lá o que for. Que foi operário em priscas eras, mas que há pelo menos 30 anos vive no bem bom.


Começa que ele não conhece o princípio básico de uma ordem: antes de ser dada, deve ser muito bem pesada, para que possa ser cumprida e para saber se há condições de exigir que seja cumprida. Não adianta eu mandar você voar, você não vai conseguir voar. Muitos tentaram e todos se espatifaram no chão. Isso vale em casa, com nossos filhos, e vale igualmente no governo.


Começou seu Segundo Reinado comunicando ao mundo que o Rio de Janeiro estava nas mãos de terroristas. Tomou ao menos uma das providências que o governo inglês acaba de tomar? Não, acabado o discurso, foi pescar no Guarujá. Quantas ordens peremptórias o Lula já deu para acabar com o apagão aéreo? Quantas vezes ele já disse que quer que ‘arrumem a casa’ de qualquer jeito? Que achava um absurdo ver os passageiros sendo destratados daquele jeito. E daí? O que foi que aconteceu com o apagão aéreo? Acendeu?


Ele ao menos chamou a atenção de sua desastrada ministra, que debochou de quem sofre horas de agonia e mal estar nos aeroportos do Brasil? Não. Riu. Até brincou com aquela frase infeliz, ao dizer, após um discurso em Brasília: “Quase encerrei dizendo votem e gozem”. E aqui no Rio, ele e o governador carioca fizeram a brincadeirinha, numa solenidade, de um dizer ‘ relaxem’, e o outro completar: ‘e gozem’. Essa piadinha, de muito mau gosto, que bem reflete os espíritos que nos governam, foi feita no dia em que prometeu que sua administração ia competir com o crime organizado! Competir!


Os problemas do senador Renan Calheiros não têm nada a ver com o presidente. Ou melhor, não tinham. Passaram a ter no momento em que ambos juntaram as cabeças para pensar numa maneira de livrar o belo alagoano do pontapé que merece. Desse momento em diante, Renan ganhou alma nova e se dá ao luxo de culpar a Imprensa por tudo que lhe vem acontecendo. Se Lula fosse um presidente competente, e um estadista, esse encontro não teria acontecido, nem os discursos em que ele, achando que estava sendo sutil, declarou que ninguém é inocente até ser provado culpado... Frase antológica, da mesma cepa daquela que diz que sua mãe nasceu analfabeta.


O governo Lula me assusta. Pensar nos poderes imensuráveis que ele tem nas mãos, é apavorante. Agora vai mexer num rio. Não é num riacho qualquer, é num senhor rio. O Rio da Unidade Nacional. O belo, o magnífico São Francisco. Também está nos comprometendo, no mundo todo, como fornecedores de cana-de-açúcar. A Casa Grande e a Senzala, tudo de novo outra vez.


Com os vizinhos, nosso papel tem sido deplorável. A alma do barão do Rio Branco deve estar enfurecida. Será que ao morrermos nos encontramos com os que foram antes de nós? Se assim for, tenho pena do Lula no momento em que se encontrar com o barão. Vai penar...


Noutro dia ouvi um comentário muito interessante: na realidade, nós não vivemos numa democracia. Vivemos é numa república representativa. E nós andamos muito mal representados. Escolhemos muito mal. Votamos pela cara do sujeito, ou pelo número de cargos que ele tem na algibeira, ou pelo número de cestas-básicas que ele pode distribuir. Ontem, eram as dentaduras. Hoje, a bolsa-esmola.


O governo do ex-operário, ex-sindicalista, ex-deputado Lula, se gaba de ser extraordinário. É a opinião de quem, por ter pouquíssimas luzes, se satisfaz com palácios, aviões, helicópteros, alfaias luxuosas, com as vaidades atendidas. Com o menor, com o medíocre. Para ele, isso é o píncaro. Não lhe ocorre que ainda tem muito que subir, se pretende um dia chegar ao alto.


A melhor foto do governo Lula, para mim, é aquela da triste procissão no último dia de São Pedro. Uma verdadeira radiografia. Lula, com aquela roupinha estilizada de caipira, as calças remendadas não com pequenos trapos, mas com flores de pano recortadas. Dona Marisa, mais maquiada e enfeitada do que a célebre Maria Bonita. O vice-presidente, coitado, um senhor idoso, com cara de quem acompanhava um enterro. Os outros gatos pingados também, todos com ar muito melancólico. Um ar, sinto muito, bem Brasil 2007.

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