Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 21, 2007

Lucia Hippolito:Onde está a compostura?

Primeiro, foi a frase infeliz, grosseira, reveladora de desprezo e menoscabo pelas pessoas, pronunciada pela “elegante” e quatrocentona ministra do Turismo, com sugestões sobre o que os passageiros deviam fazer para enfrentar o apagão aéreo.

Em seguida, veio a explicação canhestra da maior autoridade econômica do país, ninguém menos que o ministro da Fazenda, sobre as raízes do apagão aéreo: “É a prosperidade!”, teria dito sua Excelência, prenhe de arrogância jeca.

Aí aconteceu a tragédia.

E a perda da compostura ainda continuou.

Dois episódios chamam a atenção, pela cafajestice, pelo deboche, pelo rompimento dos últimos limites da compostura e da decência.

No primeiro, uma autoridade subalterna, aspone que se arvora em chanceler, protagonizou junto com um assessor, numa sala do Palácio Planalto, sede da Presidência da República, uma cena pornô, das mais cafajestes e grosseiras.

Cena, repita-se, passada – e documentada – entre dois agentes públicos, nas dependências da Presidência da República.

Como muito bem observou o senador Pedro Simon, foi uma bofetada na cara do povo brasileiro.

O segundo episódio é igualmente dantesco.

A Aeronáutica, casa de Santos Dumont, Casemiro Montenegro, Eduardo Gomes, Nero Moura, Francisco Teixeira, Rui Moreira Lima, e tantos outros.

A Aeronáutica, de tantos heróis de guerra, do 1º Grupo de Aviação de Caça, que tantas glórias conquistou nos céus da Itália na Segunda Guerra Mundial.

Enfim, a Aeronáutica do capitão Sérgio Macaco, herói da resistência contra o arbítrio durante a ditadura.

Pois esta Aeronáutica, tão distante de suas melhores tradições, decidiu manter nesses dias difíceis de hoje, a comemoração do nascimento de Santos Dumont.

E condecorou com a Medalha de Santos Dumont (!!), por relevantes serviços prestados à aviação civil, o presidente e uma diretora da Anac, cujo principal mérito é a amizade com a ministra Dilma Roussef e o ex-deputado José Dirceu. Diretora, aliás, cuja performance maltratando os parentes das vítimas do acidente da Gol (aquele, do ano passado) já é registro histórico.

Onde é que a Aeronáutica está com a cabeça, que não adiou a cerimônia?!

Tendo em vista o desempenho profissional dos condecorados, que razões encontrou a Aeronáutica para dar-lhes uma medalha?

O presidente da República decretou luto de três dias em respeito aos 200 mortos no acidente com o avião da TAM.

Mas a Aeronáutica considerou que era adequado manter a cerimônia e condecorar duas pessoas certamente incluídas entre as principais responsáveis pelo apagão aéreo que vivemos há dez meses e que teve um desdobramento trágico com 200 mortos nesta mesma semana.

Como é que se condecora a incapacidade?

Como é que se condecora o descaso, a negligência, a arrogância, a auto-suficiência militante?

É de se perguntar: E ninguém vai ser demitido?

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