Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 14, 2007

Fique atento aos prazos de validade

Guia
Não passe do prazo de validade

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que
30% da população mundial sofra ao menos uma vez
por ano de intoxicação alimentar. São quase 2 bilhões
de pessoas. Uma parte delas, diz o estudo, passa mal
por um descuido básico: elas ignoram o prazo de
validade dos alimentos.


Monica Weinberg

A falta de hábito de conferir a data de vencimento dos produtos é pior no Brasil, segundo os especialistas. Apesar de o prazo vir estampado – por exigência da lei – na embalagem de remédios, bebidas, cosméticos, produtos de limpeza e alimentos industrializados, muita gente ignora solenemente a informação. E passa mal depois. "As pessoas vão parar no hospital porque ingeriram remédio vencido ou comida velha, mas na maioria das vezes nem se dão conta de que a origem do mal-estar é essa", diz o toxicologista Anthony Wong, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Wong e outros especialistas consultados por VEJA fizeram uma lista dos produtos que, após o vencimento do prazo de validade, mais costumam resultar em visitas ao pronto-socorro. Os profissionais dão uma aula sobre como, cada item, depois de vencido, perde a eficácia – e ainda pode prejudicar a saúde.

1 ÁGUA MINERAL

Prazo de validade*: oito meses (com gás) e um ano (sem gás)
Por que evitar o produto depois disso: a água pode estar contaminada por bactérias. Às vezes, elas causam problemas gastrointestinais, como a diarréia. Em casos bem mais raros, prejudicam o sistema nervoso. O que determina a validade da água, afinal, é a duração da embalagem – e não a da bebida. Depois da data-limite, a garrafa de vidro pode ficar menos vedada e a de plástico está mais sujeita a sofrer ranhuras praticamente imperceptíveis. Parece detalhe, mas é justamente por meio de tais brechas minúsculas que as bactérias eventualmente conseguem infiltrar-se, infestar o líquido e causar danos à saúde de quem o consome. Outro aviso: depois de vencida, a água perde pelo menos 10% do gás


2 REFRIGERANTE

Prazo de validade: em lata, três meses (as versões diet e light) e seis meses (a tradicional). Em garrafas pet, dura a metade do tempo
Por que evitar o produto depois disso: primeiro, porque a embalagem pode estar danificada, o que facilita a proliferação de bactérias na bebida. Segundo, pela possibilidade de o açúcar contido no refrigerante ter fermentado. Em ambos os casos, o mais comum é a ocorrência de diarréia. É bom saber ainda que o líquido terá perdido até 15% do gás e iniciado um processo de oxidação que lhe rouba parte do aroma e do sabor. Em suma, o refrigerante estará insosso. As versões diet e light vêm com validade ainda mais curta por causa do aspartame: ele não só perde sua capacidade de adoçar como deixa gosto amargo na bebida


3 PÃO DE FORMA

Prazo de validade: de oito a doze dias
Por que evitar o produto depois disso: os estudos indicam que ele pode causar toda sorte de danos à saúde – de diarréia a (bem mais raros) problemas no sistema nervoso. A razão: o pão vencido está mais vulnerável à proliferação de fungos, aqueles que deixam sobre a superfície do alimento manchas esverdeadas e costumam infestá-lo de toxinas nocivas. Há ainda prejuízos ao paladar: o pão fica mais seco e seu gosto, puxado para o amargo


4 MOLHO DE TOMATE (em lata)

Prazo de validade: dois anos
Por que evitar o produto depois disso: os riscos à saúde vêm da embalagem. Vencida, a lata de alumínio está mais propensa a danificar-se – e deixar de garantir a vedação necessária ao molho.

Por meio de pequenas brechas, podem mesclar-se à receita fungos e bactérias causadores de diarréia e alergias. Com ferrugem na lata, a situação piora: ainda que remoto, há risco, sim, de se contrair botulismo (envenenamento alimentar que pode levar à morte). Depois de aberto, o produto deve ser consumido em até cinco dias mesmo (como pede o fabricante), sob o risco de tornar-se uma colônia de microrganismos. Mais um aviso: molho de tomate que passa do tempo sofre um processo de oxidação que lhe rouba cor, sabor e aroma


5 REMÉDIO

Prazo de validade: dois anos
Por que evitar o produto depois disso: os medicamentos perdem o efeito gradativamente depois que passam do prazo, até, enfim, deixarem de surtir resultado. A experiência dos pronto-socorros mostra que não são raros os casos de intoxicação por meio de um remédio vencido. Normalmente, as pessoas sofrem de diarréia e dor de cabeça, mas, em situações extremas, podem até ser vítimas de infecções generalizadas


6 DESINFETANTE

Prazo de validade: dois anos (se levar cloro na fórmula, cai para seis meses)
Por que evitar o produto depois disso: os especialistas dizem que as pessoas costumam prestar mais atenção na data de validade dos alimentos do que na de produtos de limpeza, como o desinfetante. O que elas não sabem é que, uma vez vencidos, eles perdem 100% da eficácia. Isso mesmo: passam a ter efeito nulo. Como o desinfetante se presta a eliminar bactérias que podem prejudicar a saúde, não tenha dúvidas ao descartar um produto já expirado – e comprar um novo


7 CREME HIDRATANTE

Prazo de validade: dois anos
Por que evitar o produto depois disso: o creme não oferece mais benefício nenhum – e às vezes faz mal à pele. A origem do problema é o conservante, que, vencido, deixa de atuar em duas frentes: na manutenção da fórmula original e na proteção do creme contra a invasão de microrganismos.
É justamente por essa razão que um creme velho tem mais probabilidade de ser infestado por bactérias, que podem causar coceiras e lesões na pele. Os especialistas avisam ainda que cosméticos do gênero exalam cheiro de "manteiga rançosa" e perdem sua textura original, quando passam do tempo. Ficam líquidos ou sólidos demais –s e podem piorar o estado da pele


* Todos os prazos de validade publicados nesta página expressam a média do mercado



Pesadelo com uma sopa vencida

É assim que a bacharel em letras Loana Lagos Maia, 53 anos, define as doze horas seguintes à ingestão de uma sopa cuja data de validade havia vencido três meses antes. Sentiu cólicas "insuportáveis". Até então, Loana achava o assunto irrelevante. No caso da sopa, não havia sequer consultado a embalagem para saber se consumia um produto nos limites do prazo regular. Foi depois do mal-estar que ela descobriu seu erro, ao vasculhar a lata de lixo e encontrar a velha embalagem vencida.

"O sofrimento daquele dia me tornou ortodoxa em relação à validade dos produtos. Fiquei tão neurótica que chego a jogar comida fora alguns dias antes de expirar. Passar mal à toa, nunca mais na vida"

Fotos Darcio Tutak, Germano Luders, Procon/Divulgação, Alfredo Franco, Photodisc, Selmy Yassuda e Eyewire/Royalty-Free

Arquivo do blog